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CARLOS HEITOR CONY
Os limites do futuro
RIO DE JANEIRO - "Como serei
quando tiver 64 anos?", perguntou
um jovem nos anos 60, quando estava com tudo à sua frente, o sucesso, a fortuna, a vida inteira, enfim.
Esse jovem está fazendo agora 64
anos e, se teve sucesso em sua vida,
foi quase um fracasso em prever o
seu futuro.
Continua tendo tudo a que tem
direito, uma fortuna de alguns milhões de libras e, se agora está se separando de sua mulher, tem ainda
estrada pela frente, há e haverá jovens que o topariam com prazer e
orgulho.
Os Beatles, que marcaram uma
época, tinham preocupação com a
juventude. Um deles se imaginou,
aos 60 anos, dono de uma rede de
salões de beleza.
Outro morreu assassinado, foi o
único que não teve realmente um
futuro, embora tenha deixado um
legado que está longe de ser dissipado. George morreu depois de uma
boa carreira solo, não precisou
comprar uma rede de salões.
Ao iniciar minha carreira, onze
em dez jornalistas tinham um sonho: quando tivessem mais ou menos 64 anos, iriam criar galinhas em
Jacarepaguá (não sei por que em
Jacarepaguá, mas era lá que os anseios de uma geração eram cultivados com carinho).
Dos anos 60 para cá, a expectativa de vida aumentou em quase todo
o mundo. Juízes e bispos se aposentam aos 70, 75 -e muitos deles ainda se sentem com gás para uma
prorrogação.
No caso dos cantores e dos compositores, quando atingem um patamar universal e não se suicidam
com drogas, podem ir além. Leio
nos jornais que Paul McCartney
tem agenda lotada para os próximos cinco anos.
Mesmo assim, valeu a sua pergunta sobre o próprio futuro. Era
uma época em que não se confiava
em quem tinha mais de 30 anos. Pode-se confiar em Paul aos 64.
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