São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Os limites do futuro

RIO DE JANEIRO - "Como serei quando tiver 64 anos?", perguntou um jovem nos anos 60, quando estava com tudo à sua frente, o sucesso, a fortuna, a vida inteira, enfim. Esse jovem está fazendo agora 64 anos e, se teve sucesso em sua vida, foi quase um fracasso em prever o seu futuro.
Continua tendo tudo a que tem direito, uma fortuna de alguns milhões de libras e, se agora está se separando de sua mulher, tem ainda estrada pela frente, há e haverá jovens que o topariam com prazer e orgulho.
Os Beatles, que marcaram uma época, tinham preocupação com a juventude. Um deles se imaginou, aos 60 anos, dono de uma rede de salões de beleza.
Outro morreu assassinado, foi o único que não teve realmente um futuro, embora tenha deixado um legado que está longe de ser dissipado. George morreu depois de uma boa carreira solo, não precisou comprar uma rede de salões.
Ao iniciar minha carreira, onze em dez jornalistas tinham um sonho: quando tivessem mais ou menos 64 anos, iriam criar galinhas em Jacarepaguá (não sei por que em Jacarepaguá, mas era lá que os anseios de uma geração eram cultivados com carinho).
Dos anos 60 para cá, a expectativa de vida aumentou em quase todo o mundo. Juízes e bispos se aposentam aos 70, 75 -e muitos deles ainda se sentem com gás para uma prorrogação.
No caso dos cantores e dos compositores, quando atingem um patamar universal e não se suicidam com drogas, podem ir além. Leio nos jornais que Paul McCartney tem agenda lotada para os próximos cinco anos.
Mesmo assim, valeu a sua pergunta sobre o próprio futuro. Era uma época em que não se confiava em quem tinha mais de 30 anos. Pode-se confiar em Paul aos 64.


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