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VALDO CRUZ
Mortos vivos
BRASÍLIA - Até aqui, salvo surpresas desagradáveis, o país atravessou a fase mais aguda da crise
econômica internacional sem enfrentar uma catástrofe.
Então, lá se foi o pior? Nem tanto.
Ironia do destino, o governo se preparou para as turbulências externas, mas não fez o dever de casa em
assuntos domésticos que podem
causar bons estragos.
São mortos vivos inventados pelo
próprio governo. O mais temido perambula pelo Congresso ameaçando as contas da Previdência. São
dois projetos do petista Paulo Paim
e um veto presidencial, que pode
cair -todos tratam de reajustes
previdenciários.
De forte apelo popular, ainda
mais na véspera de ano eleitoral,
eles criam um rombo de até R$ 100
bilhões nos cofres públicos. Foram
gerados pelo descaso do governo
com a Previdência. Lula não só deixou de fazer a reforma do setor, como criou a sensação de que não há
grave desequilíbrio na área.
Outro fantasma a rondar os gabinetes da equipe econômica é a fórmula maluca de tributação da poupança. Ninguém sabe se envia ou se
mantém na gaveta o projeto anunciado pelo próprio Lula.
A mais nova surpresa desagradável foi a queda na arrecadação além
do previsto. No início do ano, houve
quem defendesse suspender aumentos do funcionalismo como
medida de segurança. Lula deu de
ombros. Agora, pode ser obrigado a
recuar de sua decisão.
O pior é que esses mortos vivos
ameaçam se alinhar e provocar um
baita pesadelo no governo, levando
a uma deterioração nas contas públicas exatamente no último ano de
mandato do petista.
A equação é a seguinte: a perda de
receita levou o governo a bloquear o
dinheiro das emendas parlamentares. Sem grana, os deputados estão
chiando. Ameaçam dar o troco e
aprovar os projetos que geram gastos na Previdência. Resultado: rombo fiscal à vista e juros com tendência de alta. Acorda, Lula.
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