São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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VALDO CRUZ

Mortos vivos

BRASÍLIA - Até aqui, salvo surpresas desagradáveis, o país atravessou a fase mais aguda da crise econômica internacional sem enfrentar uma catástrofe.
Então, lá se foi o pior? Nem tanto. Ironia do destino, o governo se preparou para as turbulências externas, mas não fez o dever de casa em assuntos domésticos que podem causar bons estragos.
São mortos vivos inventados pelo próprio governo. O mais temido perambula pelo Congresso ameaçando as contas da Previdência. São dois projetos do petista Paulo Paim e um veto presidencial, que pode cair -todos tratam de reajustes previdenciários.
De forte apelo popular, ainda mais na véspera de ano eleitoral, eles criam um rombo de até R$ 100 bilhões nos cofres públicos. Foram gerados pelo descaso do governo com a Previdência. Lula não só deixou de fazer a reforma do setor, como criou a sensação de que não há grave desequilíbrio na área.
Outro fantasma a rondar os gabinetes da equipe econômica é a fórmula maluca de tributação da poupança. Ninguém sabe se envia ou se mantém na gaveta o projeto anunciado pelo próprio Lula.
A mais nova surpresa desagradável foi a queda na arrecadação além do previsto. No início do ano, houve quem defendesse suspender aumentos do funcionalismo como medida de segurança. Lula deu de ombros. Agora, pode ser obrigado a recuar de sua decisão.
O pior é que esses mortos vivos ameaçam se alinhar e provocar um baita pesadelo no governo, levando a uma deterioração nas contas públicas exatamente no último ano de mandato do petista.
A equação é a seguinte: a perda de receita levou o governo a bloquear o dinheiro das emendas parlamentares. Sem grana, os deputados estão chiando. Ameaçam dar o troco e aprovar os projetos que geram gastos na Previdência. Resultado: rombo fiscal à vista e juros com tendência de alta. Acorda, Lula.


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