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CLÓVIS ROSSI
O PIB e a vida
SÃO PAULO - Ladislau Dowbor,
professor titular do departamento
de pós-graduação da PUC de São
Paulo, discute a sacralização do PIB
(Produto Interno Bruto, a soma dos
bens e serviços produzidos por um
país). "O PIB é um cálculo incorreto
e não constitui uma bússola adequada", diz, em entrevista à revista
"Desafios do Desenvolvimento",
editada pelo Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas.
A revista, aliás, já foi muito boa,
mas, agora, está "chapa-branca" demais. Praticamente só ouve gente
do governo, o que obviamente empobrece o debate público que seria
o seu objetivo principal.
Voltando a Dowbor, ele cita vários exemplos de como atividades
que enriquecem o PIB podem, no
entanto, empobrecer a vida das
pessoas. Um deles: os formidáveis
congestionamento de trânsito em
São Paulo. Como é óbvio, provocam
gastos com o carro, gasolina, seguro, o que aumenta o PIB. Mas provocam também doenças respiratórias (pela poluição) e tempo perdido, item, este último, que nem entra
no cálculo do PIB.
Um segundo exemplo, pelo qual
em geral passamos batidos, é a expressão "produtores de petróleo".
Diz Dowbor: "Nunca ninguém conseguiu produzir petróleo", por ser
"um estoque de bens naturais".
Logo, "sua extração é positiva [no
sentido de que aumenta o PIB], mas
temos que lembrar que estamos reduzindo cada vez mais o estoque de
bens naturais que iremos entregar
aos nossos filhos".
Pode parecer uma visão excessivamente ingênua, mas não custa
lembrar que, no auge da crise econômico-financeira, muita gente
que de ingênua não tem nada defendeu a tese de que seria a oportunidade de ouro para mudar o padrão de consumo do planeta, que
está se tornando (ou já se tornou)
crescentemente insustentável.
Mas a atenuação da crise levou a
abandonar essa ideia e fez PIB voltar a ser palavra mágica.
crossi@uol.com.br
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