São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Uma saída à chilena
JEFFERSON PÉRES
Desconfio que esse plano começaria a ser executado de maneira dissimulada neste primeiro governo e, então, ser acelerado e consolidado no segundo mandato. Esse projeto algo sinistro foi abalado, no início de 2004, pelo caso Waldomiro Diniz, e definitivamente abortado pela atual maré de escândalos, que fragilizou o governo e feriu fundo o PT. O sonho petista de hegemonia transformou-se rapidamente num pesadelo de agonia. Mas o problema não é só do governo e do PT. O país vive situação muito difícil, pela conjugação de uma grave crise política com um complicado impasse econômico. A crise política todos conhecemos. O impasse econômico consiste na impossibilidade de se retomar um crescimento elevado sem disparar a inflação. E a superação da crise política, por sua vez, é precondição para o rompimento do impasse econômico. Para não reinventarmos a roda, talvez seja a hora de recorrermos à experiência alheia, não para copiá-la, mas para adaptá-la à nossa realidade. E nem precisamos sair do contexto latino-americano. Já que o PT quis repetir o mau exemplo do México do Partido Revolucionário Institucional, vamos mirar o bom exemplo do Chile do Partido Socialista. Como é sabido, o regime militar chileno foi politicamente tirânico e socialmente injusto, mas se revelou competente na gestão da economia, que apresentou excelente desempenho na fase final do período autoritário. Com o advento da redemocratização, temia-se que qualquer um dos dois grandes partidos do país -o Democrata Cristão, de centro, e o Socialista, de esquerda-, ao chegar ao poder, enveredasse por uma política econômica populista e irresponsável. Foi então que o dirigentes de ambos os partidos tiveram a lucidez de fazer a chamada "concertación", um pacto que consistia basicamente em sustentar o equilíbrio macroeconômico, com mudanças apenas pontuais no modelo seguido pelos militares. Acordo fielmente cumprido pelos governos que se seguiram ao regime militar -tanto pelos democrata-cristãos como pelos socialistas, ora no poder. Importante lembrar que o Partido Socialista chileno é o mesmo de Salvador Allende, cujos herdeiros souberam reformular o programa partidário a fim de ajustá-lo ao mundo de hoje. Como resultado da clarividência dos políticos chilenos, aquele país é um modelo de estabilidade, uma grata exceção no cenário conturbado da América do Sul, ao viver há anos em lua-de-mel com a trindade virtuosa: elevado crescimento econômico, inflação baixa e sistemática redução da pobreza. Os dirigentes dos quatro maiores partidos do Brasil -PMDB, PT, PSDB E PFL, que detêm a maioria absoluta do Congresso Nacional-, se tiverem visão de estadista, aproveitarão a crise política atual para transformar esse limão em uma limonada e buscar, com grandeza, uma saída à chilena. O objetivo? Encurtar o caminho para alcançar a trindade virtuosa que eles alcançaram. Já que os petistas não conseguiram fazer, unilateralmente, a mexicanização que só eles queriam, então, que façamos, consensualmente, a chilenização que todos queremos. José Jefferson Carpinteiro Péres, 73, advogado, é senador da República pelo PDT/AM. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Charles Tang: Um plano para a nação Índice |
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