São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Um plano para a nação

CHARLES TANG

O governo do presidente Juscelino Kubitschek e os governos militares são exemplos de governos que tiveram uma visão política de desenvolvimento e de crescimento econômico para o Brasil e, assim, criaram planos a fim de atingir a prosperidade para a nação. Desde então, há quase três décadas, a nossa fixação nacional foi voltada unicamente para a manutenção de uma ilusão de estabilidade monetária que teria o crescimento econômico como sua conseqüência.


O que falta para o nosso crescimento econômico é a elaboração de um plano estratégico com nítida visão de prosperidade


Assim, consumimos um PIB inteiro de recursos que tomamos emprestados e causamos a estagnação econômica do país por igual período. Com muita teimosia, persistência, sacrifício e limitação de visão, continuamos insistindo em um modelo econômico que, durante todo esses longos anos, deu constantes e claras provas do seu fracasso em todas as suas variantes e sob diferentes rótulos.
O Brasil tem mais condições do que os Tigres Asiáticos, incluindo China e Japão, de ser o maior "tigre" de exportações do mundo e, portanto, de ser uma superpotência econômica.
Além de sermos abençoados pelas riquezas minerais e naturais e pela extensão de terras férteis, somos um país livre de acidentes de natureza e temos um povo patriota, disciplinado e que sonha com a esperança de dias melhores. Um povo com uma mentalidade e cultura flexíveis, disposto a aderir aos planos e pacotes econômicos que iriam realizar sua esperança -tanto é que sempre os apoiou incondicionalmente e prontamente aceitou todos os sacrifícios que impunham. Nossa classe empresarial é empreendedora e capaz. Mas estamos à deriva, sem um plano estratégico de metas e objetivos para atingir nosso destino de grandeza.
Patriota, disciplinado e esperançoso, o povo brasileiro, por tanto necessitar de acreditar em dias melhores, aceitou sacrifícios em escalas sem precedentes em todas as vezes que um novo plano lhe prometia esperança.
Quem não se lembra das contribuições de ouro para o pagamento da dívida externa do país? Dos "fiscais" do Plano Cruzado? Da conformidade com o confisco do Plano Collor? Da adesão voluntária ao racionamento durante a crise do "apagão"? Que prova maior de um povo que sempre aderiu e apoiou com toda a esperança todos esses planos malfadados que implementamos ao longo das últimas décadas?
Como todos os nossos planos e pacotes eram, na fase da sua implantação, percebidos como a salvação da nação, nenhum político jamais considerou oportuno questionar sequer uma de suas vírgulas. Assim, as reformas consideradas necessárias eram embutidas nesses planos e aprovadas sem questionamento, porque não poderiam ser feitas após a sua fase de lua-de-mel ou com o início da desilusão.
Outra riqueza que temos como nação é o fato de contar com um empresariado muito capaz, constantemente sobretaxado e que vive mergulhado em incertezas, sempre às vésperas de novas mudanças nas regras do jogo, sem aviso prévio. O empresário brasileiro é bom porque, para poder sobreviver nessas condições, tem que ter visão, ser corajoso, criativo, ágil, flexível, esperto e ousado. Luta contra tudo, todos os dias, para poder gerar empregos. Mas, por melhor que seja, como conseguir ser competitivo no mercado internacional com o custo Brasil que carrega?
Como competir com 61 diferentes tributos? Com os juros exorbitantes que temos de pagar? Com encargos trabalhistas que passam de 200% e que não se revertem devidamente em beneficio ao empregado? Com uma legislação trabalhista que não foi modernizada há 60 anos, que protege mais direitos do que empregos e que, às vezes, ajuda a agravar as taxas de desemprego? Com os custos soberbos da nossa burocracia e da corrupção generalizada?
Só não atingimos ainda esse nosso destino de grandeza pela falta dessa visão política e estratégica. No campo econômico, persistimos achando que a aplicação da nossa versão do Consenso de Washington e da teoria monetarista de Chicago seriam suficientes para solucionar todos os nossos problemas de crescimento econômico.
E, assim, criamos uma multiplicidade de 61 tributos, mantemos juros exorbitantes e câmbios fictícios, restringimos o crédito disponível pela competição do financiamento da dívida pública e usamos fundos previdenciários de controle estatal para as privatizações.
O que falta para o nosso crescimento econômico é a elaboração de um plano estratégico com uma nítida visão de prosperidade e a adoção de uma teoria econômica condizente com a formação da riqueza das nações.
A experiência da China e dos Tigres Asiáticos não-socialistas que a antecederam nos ensina que o caminho da riqueza de uma nação não precisa ser tão longo, demorado, difícil e muito menos impossível. Após todas essas décadas de persistência, tempo suficiente para o crescimento de duas Chinas, continuamos acreditando, talvez ingenuamente, que a política econômica atualmente adotada esteja preparando a cama para o nosso desenvolvimento sustentado.
Devemos mudar nosso decrépito modelo econômico da criação de círculos viciosos de alternância entre inflação e estabilização, baseado em recessões autocriadas, agravando ainda mais a nossa pobreza e concentração de renda.
Por que não adotamos a teoria mercantilista tão claramente testada pelos Tigres Asiáticos e criamos as estruturas necessárias para transformar o Brasil no maior "tigre" exportador do mundo? Por que não reestruturamos a nossa economia para desmontar a danosa estrutura do custo Brasil, a fim de assegurar competitividade internacional?

Charles Andrew Tang, membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, do Conselho Internacional do governo de Wuhan e conselheiro econômico do governo do município de Jilin, é presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.


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