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CLÓVIS ROSSI
O vazio de ideias e projetos
SÃO PAULO - Paulo Cunha, o presidente do grupo Ultra, é uma das
pessoas que mais e melhor pensam
o país, e o faz sem buscar os holofotes, o que torna sua entrevista à Folha uma preciosidade.
Só tenho uma discordância: dizer, como o faz Cunha, que "o bafafá
político tem impedido o Brasil de
discutir essas questões [as relevantes]", é dizer pouco. Não é só o "bafafá" político. É, acima de tudo, "um sistema político que não atende às
necessidades do país", como também afirmou o empresário, aí sim
acertadamente.
Partidos políticos são, com perdão da obviedade, o elo indispensável entre a sociedade e o poder. No
Brasil, não funcionam como tal. O
PT até que tentou cumprir esse papel. Tenho em casa um livro grosso
com as teses discutidas nos congressos do partido, sua instância
máxima, desde a fundação até já
não lembro que ano.
Havia alucinações e disparates,
mas havia também uma porção de
propostas sensatas -havia, enfim,
um projeto de país, bom ou ruim ao
gosto de cada freguês. Depois que
Lula disse que tudo isso não passava de "bravatas", acabou.
Nos outros partidos, basta o
exemplo da eleição de 2006: até hoje, o PSDB não conseguiu explicar
que projeto de país tornava Geraldo
Alckmin o candidato ideal. Obriga a
supor que se tratava, antes como
agora (José Serra x Aécio Neves), de
mera questão de nomes.
Mas não são só os partidos. Os
companheiros empresários de Paulo Cunha tampouco pensam o país,
com raríssimas exceções. Na academia, o Brasil é, sim, analisado, mas
de um modo isolado e fragmentado.
Não surgiu nada parecido com o
Cebrap e o seu papel relevante na
ditadura e na transição para a democracia.
Como a era dos caudilhos, que
mobiliza o país contra ou a favor,
aparentemente terminará com Lula em 2010, seria o tempo das instituições e das ideias. Onde estão?
crossi@uol.com.br
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