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RUY CASTRO
Denunciando
RIO DE JANEIRO - Não importa a
notícia. Tanto pode ser o candidato
a vice de Serra, Indio da Costa, acusando o PT de flertar com o narcotráfico quanto o assalto a um banco, outro dia, em Santa Bárbara do
Oeste (SP), hilário porque, ao chegar ao caixa com a arma, o assaltante gago não conseguiu desembuchar -ambos perderam uma boa
oportunidade de afinar melhor o
discurso. Mas, ao pé destas ou de
qualquer matéria on-line, vêm as
opções: "Comente. Imprima. Compartilhe. Envie. Etc.". E a mais intrigante: "Denuncie".
Ao ouvir o verbo denunciar, a
imagem que nos vem à mente é a de
alguém dando conhecimento a outro do malfeito de um terceiro. E isso pode ser feito legalmente, na forma de uma acusação formal, ou pela infâmia da delação, o crime sem
perdão. Nos dicionários de português, do Moraes ao Houaiss, não há
outro sentido para denunciar.
Mas, em inglês, língua de onde
se origina o internetês porcamente
traduzido que usamos, há vários
outros. "Denounce" [dináunnss],
diz o Vallandro, além de "denunciar, delatar, acusar publicamente", é também "protestar contra,
atacar, verberar, estigmatizar,
ameaçar, anunciar, profetizar" etc.
Donde, o que eles estão nos propondo quando nos convidam a "interagir", "denunciando" tal ou qual
matéria, é que manifestemos nosso
desagrado quanto à notícia em si
ou quanto à maneira parcial, tendenciosa, mal apurada ou cheia de
erros com que ela foi tratada no veículo. Não quer dizer que você deva
ir correndo denunciá-la à Associação Brasileira de Imprensa, à Academia Brasileira de Letras ou à delegacia mais próxima.
Da mesma forma, ainda estou
tentando entender por que "initialize", em português, tornou-se "inicializar", e não "iniciar". Ou por
que você deve "inicializar" o computador quando pretende, ao contrário, desligá-lo. Mas aprenderei,
aprenderei.
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