São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2010

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ANTONIO DELFIM NETTO

O duplo mergulho

A recente revisão das estimativas do crescimento mundial feita pelo Fundo Monetário Internacional (que como "previsão" é sujeita a chuvas e trovoadas) mostra que, até onde é possível enxergar o futuro, existe um movimento de recuperação que foi vigoroso no primeiro trimestre de 2010 e provavelmente seguirá a uma velocidade menor nos trimestres seguintes.
Segundo o FMI, o mundo crescerá em 2010 qualquer coisa como 4,6%, contra um crescimento negativo de 0,6% em 2009. Para 2011 o FMI sugere um crescimento de 4,3%.
Com exceção de alguns analistas da evolução do mercado financeiro internacional, ninguém considera seriamente a probabilidade de uma nova crise (o "double dip").
Quando se olha para o setor produtivo, há um otimismo moderado de que o processo de recuperação vai continuar.
Os EUA, ao lado das medidas monetárias e fiscais de estímulo ao crescimento, mas relativamente hostis ao setor produtivo, continuam a dar ênfase à busca da autonomia energética.
Acrescentaram recentemente três vetores mais agradáveis ao setor produtivo privado para tentar mobilizá-lo:
1) duplicar em cinco anos o valor das exportações com amplo e sofisticado suporte governamental; 2) acelerar os acordos de livre comércio parados no Congresso por pressão dos sindicatos e 3) uma ação psicológica e de persuasão moral sobre os empresários para que acreditem na recuperação e aumentem seus investimentos, uma vez que dispõem de US$ 2 trilhões em caixa. O FMI estima para os EUA um crescimento de 3,3% para 2010 e 2,9% para 2011.
No caso da Alemanha (crescimento de 1,4% em 2010 e 1,6% em 2011 de acordo com o FMI), o ministro das Finanças estima que o crescimento poderá atingir 2% em 2010 graças à credibilidade, no setor privado, do ajuste fiscal e ao aumento das exportações promovidas pela desvalorização do euro.
No caso do Japão, a dependência das exportações é maior e sua rápida expansão no primeiro trimestre levou o FMI a estimar um crescimento do PIB de 2,4% em 2010 e 1,8% em 2011.
Na China continuam os estímulos de toda sorte à produção e à criação de um mercado interno cada vez mais robusto.
Ela iniciou agora um novo e importante programa, a "Grande Exploração do Oeste". O FMI estima um crescimento de 10,5% em 2010 e de 9,6% em 2011.
No nível do setor produtivo, que cria o PIB e dá emprego, parece que ninguém está falando num "double dip" criador da volatilidade tão querida dos especuladores financeiros.


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

contatodelfimnetto@uol.com.br


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