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Faxina localizada
Dilma segue com limpeza nos Transportes, pasta decisiva para a infraestrutura, mas ganharia mais pontos se abarcasse toda a Esplanada
A presidente Dilma Rousseff parece empenhada no que já se chama de "faxina" no Ministério dos
Transportes. A expressão não soa
imprópria, embora o alcance das
intervenções do Planalto mereça
discussão mais detida.
Até a tarde de ontem, a conta estava em 15 defenestrados, a começar pelo ministro e senador Alfredo Nascimento (PR-AM). Entre os
mais graúdos, José Francisco das
Neves, da Valec (Engenharia,
Construções e Ferrovias S.A.), e
Luiz Antonio Pagot, do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre) -este afastamento ainda por confirmar.
Se Pagot é afilhado do senador
Blairo Maggi (PR-MT), Neves estava na cota do deputado Valdemar
Costa Neto (PR-SP), secretário-geral do partido -um dos 15 que em
teoria apoiam Dilma- e figura notória desde o escândalo do mensalão, do qual foi um dos pivôs.
Descobre-se agora, em capítulos, que Costa Neto mantinha uma
rede de apaniguados na pasta
aparelhada pelo PR, a "turma do
Valdemar". A alcunha cai bem em
um ministério com indícios clamorosos de falcatruas e enriquecimento de grupos ou pessoas, estimulados pela leniência crônica
com a corrupção durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os sucessivos casos de suspeitas e desvios que têm vindo à tona
nos Transportes são exemplos de
almanaque do patrimonialismo
brasileiro, vale dizer, da apropriação privada de bens públicos. Dilma demonstra tolerância menor
com essa herança funesta de Lula,
que não soube ou não quis reprimir tais práticas renitentes.
São bem-vindas as medidas que
vai tomando para sanear a pasta,
mas talvez não sejam suficientes.
Paradoxalmente, o PR continua
no comando, decerto por temor da
presidente de melindrar uma bancada de 40 deputados federais.
Seria o caso de dar um passo
além e promover auditoria minuciosa nos principais contratos do
ministério. Além do benefício direto, que parece óbvio nos Transportes, serviria como modelo e
alerta para outras áreas do governo carentes de moralização.
Há, porém, um conflito entre a
disposição da presidente e conveniências políticas. Lula teria manifestado preocupação com o efeito da investida da sucessora sobre a base aliada, como se a satisfação
de interesses fisiológicos fosse
precondição de governabilidade.
Acostumamo-nos a isso no Brasil. O país está ainda longe de um
padrão republicano de política.
No que toca aos Transportes,
Dilma dá arrancadas na direção
correta. Faria melhor se seguisse
adiante na limpeza da Esplanada.
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