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Altos e baixos chilenos
Seria prematuro, e ainda injusto, avaliar o governo de centro-direita do presidente Sebastián Piñera, no Chile, com base apenas
nas mais recentes manifestações
de rua e pesquisas de opinião, que
registram uma queda vertiginosa
em sua popularidade.
O empresário convertido em
presidente de fato chegou ao que
parece ser o fundo do poço, aprovado por apenas 31%, o menor índice em 40 anos. O número é tanto
pior se contrastado com o pico de
63% de outubro passado, quando
liderou a mobilização nacional em
favor dos 33 mineiros soterrados,
ou com a popularidade de Michelle Bachelet, que saiu do poder
aclamada por mais de 80%.
Todavia, a socialista Bachelet,
antes de se tornar quase unanimidade, também amargou rejeição
próxima à que hoje enfrenta Piñera. Em outubro de 2007, com 18
meses de governo (o atual presidente tem 15), a socialista era
aprovada por 35% -só quatro
pontos a mais que o seu sucessor.
A crise que ora corrói a popularidade de Piñera, impulsionada
por megaprotestos estudantis,
também se abateu sobre Bachelet
no início de seu governo, em 2006.
A presidente respondeu às manifestações, que lhe tomaram dez
pontos de aprovação em apenas
um mês, criando um conselho para discutir a reforma educacional.
Em 2008, ainda no governo Bachelet, o Congresso aprovou uma
Lei Geral da Educação que fazia
reformas cosméticas, sem alterar
os pontos centrais legados pela ditadura Pinochet (1973-1990). O ensino oficial segue subfinanciado,
em desvantagem diante do particular. As universidades públicas
são pagas, com mensalidades que
podem chegar a R$ 1.000.
O que se vê agora é, em parte, o
recrudescimento de demandas sociais não resolvidas. Como há cinco anos, os protestos estudantis
destamparam um caldeirão de
descontentamento: trabalhadores
da estatal de cobre ensaiam uma
greve nacional; a construção de
hidrelétricas no sul enfrenta resistências de ambientalistas; fazendeiros tomam as ruas.
O quadro geral do mandato de
Piñera é, portanto, decididamente
desfavorável, tanto que o presidente já reconheceu ser necessária uma "profunda autocrítica" e
promoveu uma mudança ampla
no gabinete -a terceira- ao substituir 8 de 22 ministros.
No entanto, como mostra a trajetória de Bachelet, índices de popularidade, no Chile como no resto do mundo, são voláteis.
Após recuo de 1,5% em 2009, a
economia chilena se expandiu
5,2% em 2010 e deve crescer outros 6% em 2011. Se essa bonança
conseguir esvaziar as ruas, Piñera
não precisará de muito esforço para recuperar a popularidade.
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