São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

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Altos e baixos chilenos

Seria prematuro, e ainda injusto, avaliar o governo de centro-direita do presidente Sebastián Piñera, no Chile, com base apenas nas mais recentes manifestações de rua e pesquisas de opinião, que registram uma queda vertiginosa em sua popularidade.
O empresário convertido em presidente de fato chegou ao que parece ser o fundo do poço, aprovado por apenas 31%, o menor índice em 40 anos. O número é tanto pior se contrastado com o pico de 63% de outubro passado, quando liderou a mobilização nacional em favor dos 33 mineiros soterrados, ou com a popularidade de Michelle Bachelet, que saiu do poder aclamada por mais de 80%.
Todavia, a socialista Bachelet, antes de se tornar quase unanimidade, também amargou rejeição próxima à que hoje enfrenta Piñera. Em outubro de 2007, com 18 meses de governo (o atual presidente tem 15), a socialista era aprovada por 35% -só quatro pontos a mais que o seu sucessor.
A crise que ora corrói a popularidade de Piñera, impulsionada por megaprotestos estudantis, também se abateu sobre Bachelet no início de seu governo, em 2006. A presidente respondeu às manifestações, que lhe tomaram dez pontos de aprovação em apenas um mês, criando um conselho para discutir a reforma educacional.
Em 2008, ainda no governo Bachelet, o Congresso aprovou uma Lei Geral da Educação que fazia reformas cosméticas, sem alterar os pontos centrais legados pela ditadura Pinochet (1973-1990). O ensino oficial segue subfinanciado, em desvantagem diante do particular. As universidades públicas são pagas, com mensalidades que podem chegar a R$ 1.000.
O que se vê agora é, em parte, o recrudescimento de demandas sociais não resolvidas. Como há cinco anos, os protestos estudantis destamparam um caldeirão de descontentamento: trabalhadores da estatal de cobre ensaiam uma greve nacional; a construção de hidrelétricas no sul enfrenta resistências de ambientalistas; fazendeiros tomam as ruas.
O quadro geral do mandato de Piñera é, portanto, decididamente desfavorável, tanto que o presidente já reconheceu ser necessária uma "profunda autocrítica" e promoveu uma mudança ampla no gabinete -a terceira- ao substituir 8 de 22 ministros.
No entanto, como mostra a trajetória de Bachelet, índices de popularidade, no Chile como no resto do mundo, são voláteis.
Após recuo de 1,5% em 2009, a economia chilena se expandiu 5,2% em 2010 e deve crescer outros 6% em 2011. Se essa bonança conseguir esvaziar as ruas, Piñera não precisará de muito esforço para recuperar a popularidade.


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