São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

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CRISTINA GRILLO

Resistência

RIO DE JANEIRO - Há um mês, o menino Juan Moraes, 11, foi assassinado em um beco escuro de uma favela na Baixada Fluminense. Seu corpo foi encontrado dez dias depois na beira de um rio, a 18 quilômetros do local do crime.
Pouco se sabe do que, de fato, aconteceu com o menino, mas muito se suspeita. Ao voltar para casa, Juan encontrou policiais que supostamente perseguiam traficantes da região. Os quatro policiais militares que participavam da ação tiveram sua prisão temporária pedida na terça-feira pelo Ministério Público. Da arma de um deles partiu o tiro que matou a criança.
Eles têm em sua conta, somados, 37 autos de resistência -expressão usada para o registro de casos nos quais uma pessoa, supostamente um criminoso, morre em confronto com forças de segurança.
Em 2010, estatísticas do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro contabilizaram 855 autos de resistência. Menos do que nos anos anteriores -em 2007, chegou-se a 1.330 casos-, mas, ainda assim, um número elevado.
Até a morte de Juan, os autos de resistência eram registrados levando-se em conta apenas a palavra dos policiais envolvidos. Não havia perícia, investigação...
Uma portaria da chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, do início de julho, pretende mudar isso. Tornou obrigatória a investigação de casos em que a vítima supostamente tenha sido morta ao reagir ao trabalho dos policiais.
Pareceria louvável, se não fossem duas questões. Primeiro, porque já se tentou fazer isso em 2006, quando os batalhões da PM eram obrigados a enviar relatórios diários sobre mortos e feridos por disparos de PMs. Imagina-se que o objetivo fosse evitar abusos.
Segundo, porque parece óbvio que a morte de uma pessoa, não importa quem seja, deve ser investigada, sem que haja necessidade de portarias para isso.


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