São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

KENNETH MAXWELL

O mal que não se vê

A expressão "see no evil, hear no evil, speak no evil", ao que se sabe, tem origem em uma história sobre três macacos. Isso resume o depoimento de Rupert Murdoch, 80, e de seu filho James Murdoch, 38, diante de um comitê da Câmara dos Comuns, em Londres.
Eles se mostraram muito contritos. Pediram profusas desculpas. Alegaram que o escândalo das escutas telefônicas, que os levou a fechar o tabloide "News of the World", seu maior sucesso de vendas no Reino Unido, foi uma completa surpresa para eles.
A crise explodiu há duas semanas. Após a condenação do assassino de Milly Dowler, foi revelado que Glenn Mulcaire, investigador que trabalhava para o "NoW", instalou escuta que lhe dava acesso aos recados enviados ao celular da menina de 13 anos desaparecida.
Ele apagou algumas das mensagens, o que deu aos pais de Milly a falsa esperança de que ela ainda estivesse viva.
Sabia-se que escutas telefônicas eram práticas comuns de certos setores da imprensa britânica. Mas o caso Milly Dowler foi tão escandaloso que resultou em revelações diárias sobre uma mistura tóxica de conluios e esforços de acobertamento, envolvendo policiais, políticos e jornalistas.
O chefe da Scotland Yard, sir Paul Stevenson, já renunciou. Ele aceitara uma dispendiosa estadia em um spa de saúde oferecida por Neill Wallis, ex-editor no "NoW" e depois consultor pago da polícia metropolitana londrina.
John Yates, comissário assistente da polícia londrina, também renunciou. Ele recusara, em 2009, reabrir a investigação sobre as escutas.
Há também Rebekah Brooks, editora do "NoW" quando do uso de escutas no celular de Milly. Ela renunciou à presidência-executiva da News International, e foi detida e libertada sob fiança.
Andy Coulson, ex-editor-executivo do "NoW", é mais um jornalista detido e libertado sob fiança. Ele foi secretário de imprensa do premiê britânico, David Cameron.
Entre os números de telefone apreendidos nos registros de Mulcaire, o investigador que instalou as escutas no celular de Milly, estava o do primo de Jean Charles de Menezes, brasileiro inocente morto a tiros pela polícia britânica após os atentados de 2005.
O policial que comandou a investigação sobre a morte de Jean Charles foi Andy Hayman, que também conduziu a investigação inicial da polícia sobre as escutas, quando Coulson editava o "NoW", e não encontrou provas. Hayman demitiu-se da polícia e se tornou colunista na News International, de Murdoch. O comitê parlamentar definiu as ações dele como "nada profissionais" e "deploráveis".
James Murdoch revelou que as despesas judiciais de Mulcaire continuavam a ser pagas pelo "NoW". Mas isso acabou.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Cristina Grillo: Resistência
Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES
Marcos Cintra: Questão de consciência

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.