São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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MATURIDADE SOB PRESSÃO

É positivo o saldo político que emerge das reuniões do presidente Fernando Henrique Cardoso com os quatro principais candidatos à sua sucessão. Ainda que elas se tenham dado num contexto de pressão dos chamados mercados financeiros sobre o jogo político, revelam um grau de maturidade e responsabilidade dos postulantes à Presidência que só pode ser saudado.
O "pacto" selado entre candidatos e presidente, como dissera esta Folha em editorial, não poderia ir além de um compromisso genérico com a manutenção da inflação baixa e de um elevado superávit fiscal (receitas menos despesas, antes dos juros). Assim o foi. É o possível por ora.
A vulnerabilidade do sistema político brasileiro aos humores dos mercados não é uma invenção da direita internacional, do Consenso de Washington ou do FMI. Trata-se de um fato concreto, vinculado à extrema exposição, induzida pela política pública, dos agentes econômicos instalados no Brasil a um ciclo global de crédito farto e barato que agora, em refluxo, cobra seu preço.
Como consequência, o próximo presidente estará, queira ou não, manietado por gravíssimas restrições macroeconômicas. Se afrontar os mercados internacionais, sua margem de manobra, que já será pequena, tenderá a reduzir-se ainda mais.
É preciso agora que as elites brasileiras aprendam a lição fundamental dessa crise. Pois o capitalismo global, se repetir a sua plurissecular história, em algum momento no futuro vai digerir a "malaise" do sobreinvestimento e voltar a expandir-se. Nessa hora, em que a memória das tormentas passadas tende a ser reprimida, é que se deverá cobrar dos agentes tomadores de decisão a responsabilidade cambial. Um país das dimensões do Brasil não pode tornar-se um mero e impotente refém dos fluxos internacionais de capital.


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