São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES 2003?
CESAR MAIA
O que fará o candidato do governo com o grau de dispersão política que sua pré-candidatura provocou, com um governo de base parlamentar menor que a atual e com a ira dos derrotados e de antigos parceiros do governo? Que taxa de resistência enfrentará? Todos esses elementos fazem parte da rotina dos atores, principalmente os economicamente mais expressivos, cujas expectativas podem afetar a conjuntura. Esse quadro geral está produzindo um cenário de enormes incertezas sobre o ano de 2003. E, ao afetar o ano de 2003 -o curto prazo-, afeta por rebatimento o ano de 2002 -o curtíssimo prazo-, mesmo que todos estejam muito esperançosos quanto ao futuro, quanto a 2006. Uma empresa, antes de quebrar pelos registros nos lucros e perdas, quebra pelo fluxo de caixa. Os governos não são diferentes. E os países também não. Sempre que os resultados e o patrimônio de alguns dependem das decisões de outros e que esses alguns acreditam que os outros vão atuar de forma defensiva, eles o tentam fazer na frente, porque o custo da proteção é menor. Por exemplo: a taxa de câmbio está acima do equilíbrio. Quando a situação voltar ao normal, quem a usou um pouco antes terá uma perda menor do que os que a usaram mais tarde. Quanto mais longe no tempo projetarem essa volta à normalidade, mais eles estarão dispostos a aceitar taxas maiores, imaginando que poderão sair dessas posições antes dos outros e que terão tempo para pensar. Por isso tudo, os candidatos, ao não quererem tratar das questões de curto prazo, por medo do desgaste, fazem um jogo perigoso, que retira dos seus governos todo um ano, correndo o risco de este ano perdido de 2003 contaminar os demais e lançar seus compromissos e promessas para um prazo maior que o de seu mandato. Esta é a discussão relevante hoje. Desde já devem responder, mesmo que em círculos fechados, o que proporá o candidato eleito no dia 30 de outubro ao governo atual, na transição. Que garantias efetivas terão os aplicadores? Com que entusiasmo tratarão a meta de inflação? Será que preferem uma comodidade fiscal maior, com uma inflação bem maior? Se for assim, como imaginam que os atores se comportarão desde já? O curto prazo, numa economia de mercado, sempre foi uma questão crucial. É sobre essa questão crucial que todos querem saber. De resto, todos sabem que os candidatos são sérios e bem intencionados. Mas, como dizia lorde Keynes, a longo prazo provavelmente estaremos mortos. Cesar Maia, 57, economista, é prefeito, pelo PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 1996. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Israel Klabin: Johannesburgo Índice |
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