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TENDÊNCIAS/DEBATES
Johannesburgo
ISRAEL KLABIN
O atual ciclo econômico pode se
caracterizar como ponte de transição não só para o planeta, como um todo, mas sobretudo para o Brasil. São
exatamente os caminhos que serão tomados agora, quanto aos modelos econômicos e sociais, que nos permitirão
encontrar um futuro melhor ou situações de catástrofe e conflitos tais como a
humanidade nunca experimentou.
Quais serão as formulações de cenários futuros não apenas balizados por
todos os avanços da humanidade até
agora, mas que também sirvam para a
correção dos gargalos criados no passado recente?
A primeira constatação é a de que o
modelo macroeconômico, criado após
a Segunda Guerra Mundial, em Bretton
Woods, está anacrônico não só em seu
cerne, o conceito de moeda e de suas paridades, mas também nos instrumentos
usados naquela época para correção das
distorções que já eram esperadas.
A segunda constatação é a de que o
modelo de desenvolvimento econômico quantitativo, baseado em consumo e
que provoca cada vez mais consumo
não essencial, concentrando os benefícios em uma massa cada vez menor de
consumidores, já se tornou inviável.
Além disso, a depleção de recursos naturais e o gigantesco impacto ambiental
dos rejeitos oriundos desse modelo de
desenvolvimento atingiram um nível
insustentável.
A terceira constatação é a de que a matriz energética atual é totalmente inviável a prazo médio. Não quero repetir
aquilo que já é lugar-comum: a humanidade não dá a prioridade necessária aos
efeitos da emissão de CO2 e suas consequências, subprodutos da matriz energética baseada em combustíveis fósseis.
As consequências são mudanças climáticas, destruição da flora e da fauna.
Energia é básica para qualquer desenvolvimento, seja quantitativo ou qualitativo. E nessa mesma mudança da matriz energética é que está a janela da
oportunidade de um novo ciclo de expansão econômica, que representará a
estabilização climática do planeta. O
Brasil, mais do que qualquer outro país
do mundo, poderá ser o grande beneficiário da demanda por energia limpa.
Em quarto lugar, temos a necessidade
de qualificar o agente perverso que impacta o meio ambiente e que corrói o tecido social de grande parte dos países, a
pobreza. Conceitualmente, pobreza significa inviabilidade de superar níveis
mínimos de indicadores necessários para a vida: alimentação, saúde, habitação,
liberdade, educação e identidade própria. De outro lado, riqueza se expressa
no modelo atual de excesso de consumo, falta de participação na problemática social e política, perda da identidade
básica e alienação da cultura e dos objetivos comunitários e nacionais.
Conclusão: pobreza e riqueza são
duas faces de um mesmo modelo, que
atingiu o seu paroxismo não apenas nos
índices de pobreza, mas na inutilidade e
na inviabilidade do uso da riqueza através do aumento de consumo.
A importância da riqueza de um país está na sua utilização para criar condições de vida para a sua população
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Vejamos agora a nossa visão, como
seres que procuramos, antes de tudo, a
ética dos modelos econômicos, sociais e
políticos, centrada na raiz do problema
que é, em última análise, ambiental.
A primeira condição necessária para
um novo ciclo de desenvolvimento é o
retorno da respeitabilidade da moeda,
que deverá ser ancorada em recursos
naturais ou numa cesta de itens que representem a economia real. Quando foi
abolida a paridade ouro-dólar, todas as
relações de valor se tornaram virtuais,
assim como todos os valores de referência macroeconômica.
A segunda proposição é a mudança de
projeto econômico básico de um modelo quantitativo para um qualitativo. A
importância da riqueza de um país está
na sua utilização para criar condições de
vida para a sua população. Quase todas
as doutrinas e ideologias propugnam
por isso, mas praticamente nenhuma a
alcançou. A inviabilidade de um modelo de crescimento baseado em consumo
não convive com os princípios básicos
de liberdade, igualdade e fraternidade.
Muito se tem falado na necessidade de
uma nova reunião mundial, em que seria redesenhado o modelo futuro de desenvolvimento e os problemas oriundos da globalização. Esperamos que esse novo modelo seja voltado para o qualitativo, e não para o quantitativo. Esperamos que esse modelo leve em consideração os limites dos recursos naturais
e a necessidade de transferirmos aos
nossos descendentes o mesmo estoque
de recursos que recebemos de nossos
antepassados.
Esperamos que sejam encontrados recursos que permitam a troca das atuais
prioridades nos orçamentos, públicos e
privados, por aquelas que enfatizem os
investimentos sociais e economicamente válidos. Esperamos que o unilateralismo das nações mais ricas se transforme em visão de projetos globais que justifiquem as doutrinas de globalização
desses mesmos países.
Caso esses propósitos se tornem um
modelo de projeto para o futuro, esse
modelo poderá, então, ser chamado de
"desenvolvimento sustentável".
Israel Klabin, 74, engenheiro, é presidente da
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável e do conselho de administração das
Indústrias Klabin. Foi prefeito do Rio de Janeiro
de 1979 a 1983.
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