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MUDANÇA PARA MELHOR
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central
(Copom) de reduzir em 2,5 pontos
percentuais a taxa básica de juros é
coerente com o atual cenário de desaceleração da atividade econômica,
queda da inflação e aprovação pela
Câmara da reforma da Previdência.
Ao decidir fixar a Selic em 22%, o Copom procura recuperar, em parte, o
terreno inutilmente perdido em meses anteriores, quando insistiu na
manutenção de uma política fortemente restritiva apesar das evidências de queda dos índices inflacionários e de asfixia da economia real.
Considerando as revisões para baixo das expectativas de inflação para
2003 e 2004, as reduções precedentes
da Selic acabaram não tendo impacto sobre a chamada taxa real de juros.
Reportagem publicada ontem pela
Folha ilustrava essa situação. O conceito de "taxa real" não se refere aos
valores cobrados por bancos a empresas e pessoas físicas, que são bastante mais elevados. O que os especialistas chamam de taxa real é a taxa
Selic menos a inflação projetada para
os próximos 12 meses.
Em 23 de julho, quando o Copom
fixou a Selic em 24,5%, a inflação
projetada era de 7,04%, o que resultava numa taxa real de 16,31%. No dia
15 deste mês, com a redução da projeção de inflação para 6,5%, a taxa
real consequentemente aumentou.
A dimensão do corte de ontem,
portanto, só poderia ser considerada
"ousada" por quem estivesse alheio
aos movimentos da economia ou excessivamente influenciado pelo tímido gradualismo adotado nos últimos
meses pelo BC. Anteontem, importantes setores do mercado financeiro
já trabalhavam com a possibilidade
de o Copom propor um corte em torno de dois pontos percentuais.
Na verdade, o comportamento da
inflação e a retração da economia já
justificavam um declínio mais acentuado dos juros nas duas reuniões
anteriores. O BC, no entanto, acabou
agindo com excesso de cautela, tendo em vista supostos riscos de que a
inflação passada viesse a contaminar
os preços futuros, por meio de mecanismos como a reindexação salarial.
Diante do quadro fortemente restritivo, com claros sinais de recessão industrial, queda do consumo e desemprego crescente, parecia claro
que tais repasses seriam inviáveis.
Os dados mais recentes divulgados
pelo IBGE apenas mostraram o agravamento das condições da economia
nos últimos meses. Também fatores
políticos parecem ter contribuído para a decisão, caso da aprovação da reforma da Previdência, cobrada pelos
mercados como uma espécie de ritual de passagem do petismo para
posições tidas como mais confiáveis.
A decisão do Copom não deixa de
significar também um providencial
alívio nas fortes pressões que vinham
se exercendo sobre o Planalto por
parte de representantes do setor produtivo e de aliados do governo inconformados com o ritmo conservador
do BC e com a consequente frustração das esperanças de retomada do
crescimento. O corte de ontem não é
por si só garantia de aquecimento da
atividade econômica, mas sinaliza,
ainda que tardiamente, uma mudança de cenário que deve influenciar
positivamente as expectativas.
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