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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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FUTURO DO IRAQUE

O sangrento atentado contra o quartel-general da ONU em Bagdá -o pior já sofrido pelas Nações Unidas ao longo de toda a sua história- lança ainda mais dúvidas sobre o futuro do Iraque. A idéia, que parecia animar o Pentágono, de fazer uma guerra rápida seguida de uma ocupação também rápida afigura-se cada vez mais distante.
Com efeito, é muito difícil que os Estados Unidos venham a entregar o comando político do país a um governo iraquiano antes que condições mínimas de segurança e infra-estrutura tenham sido restabelecidas. É justamente para impedir a restauração dessa rede mínima que os grupos contrários à ocupação norte-americana estão trabalhando.
Institui-se assim um paradoxo. Por conta das ações de resistência, os Estados Unidos vêem-se constrangidos a alongar sua permanência militar no país e, assim, postergam o único evento -a formação de um governo civil iraquiano- que poderia pôr um fim aos ataques.
A presente onda de violência no Iraque é, no fundo, apenas mais um dos efeitos colaterais do equívoco maior que foi a invasão do país independentemente do apoio das Nações Unidas. Como bem observou o editorial de ontem do jornal "The New York Times", a explosão do QG da ONU é mais uma "consequência da guerra que a administração Bush não foi capaz de prever, como os saques no pós-guerra, os atrasos no restabelecimento de água e eletricidade, as emboscadas contra soldados americanos e a sabotagem à infra-estrutura". O fato de os generais do Pentágono não terem conseguido antecipar-se a esses problemas não significa que eles não fossem previsíveis, indica antes que eles foram desconsiderados.
Lamentar o passado, porém, não remedeia o futuro. Uma vez feita a guerra e ocupado o país, seria aconselhável ampliar o papel das Nações Unidas na transição. Ainda que não goze de boa imagem entre a população, devido ao embargo de mais de dez anos imposto ao Iraque de Saddam Hussein, a ONU parece reunir melhores condições do que os militares norte-americanos para coordenar a reconstrução do país.
A segurança no Iraque é precária e nenhuma instituição está livre de ataques, mas uma administração que tenha atrás de si a força do consenso internacional e não apenas a força militar pode ter maiores chances de sucesso, especialmente se contar com o envolvimento direto de países árabes e muçulmanos.
Não parece haver, contudo, razão para nutrir otimismo. A despropositada invasão do Iraque transformou o país num caos onde prosperam a miséria, a violência e o terror. Uma vez instalada essa mortífera combinação, é difícil desarmá-la.
É obrigação da ONU e dos Estados Unidos, porém, mover esforços para que as previsões mais sombrias sobre as consequências da guerra não se confirmem.


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