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FUTURO DO IRAQUE
O sangrento atentado contra
o quartel-general da ONU em
Bagdá -o pior já sofrido pelas Nações Unidas ao longo de toda a sua
história- lança ainda mais dúvidas
sobre o futuro do Iraque. A idéia, que
parecia animar o Pentágono, de fazer
uma guerra rápida seguida de uma
ocupação também rápida afigura-se
cada vez mais distante.
Com efeito, é muito difícil que os
Estados Unidos venham a entregar o
comando político do país a um governo iraquiano antes que condições
mínimas de segurança e infra-estrutura tenham sido restabelecidas. É
justamente para impedir a restauração dessa rede mínima que os grupos contrários à ocupação norte-americana estão trabalhando.
Institui-se assim um paradoxo. Por
conta das ações de resistência, os Estados Unidos vêem-se constrangidos a alongar sua permanência militar no país e, assim, postergam o
único evento -a formação de um
governo civil iraquiano- que poderia pôr um fim aos ataques.
A presente onda de violência no Iraque é, no fundo, apenas mais um dos
efeitos colaterais do equívoco maior
que foi a invasão do país independentemente do apoio das Nações
Unidas. Como bem observou o editorial de ontem do jornal "The New
York Times", a explosão do QG da
ONU é mais uma "consequência da
guerra que a administração Bush
não foi capaz de prever, como os saques no pós-guerra, os atrasos no
restabelecimento de água e eletricidade, as emboscadas contra soldados americanos e a sabotagem à infra-estrutura". O fato de os generais
do Pentágono não terem conseguido
antecipar-se a esses problemas não
significa que eles não fossem previsíveis, indica antes que eles foram desconsiderados.
Lamentar o passado, porém, não
remedeia o futuro. Uma vez feita a
guerra e ocupado o país, seria aconselhável ampliar o papel das Nações
Unidas na transição. Ainda que não
goze de boa imagem entre a população, devido ao embargo de mais de
dez anos imposto ao Iraque de Saddam Hussein, a ONU parece reunir
melhores condições do que os militares norte-americanos para coordenar a reconstrução do país.
A segurança no Iraque é precária e
nenhuma instituição está livre de ataques, mas uma administração que
tenha atrás de si a força do consenso
internacional e não apenas a força
militar pode ter maiores chances de
sucesso, especialmente se contar
com o envolvimento direto de países
árabes e muçulmanos.
Não parece haver, contudo, razão
para nutrir otimismo. A despropositada invasão do Iraque transformou
o país num caos onde prosperam a
miséria, a violência e o terror. Uma
vez instalada essa mortífera combinação, é difícil desarmá-la.
É obrigação da ONU e dos Estados
Unidos, porém, mover esforços para
que as previsões mais sombrias sobre as consequências da guerra não
se confirmem.
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