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ELIANE CANTANHÊDE
Mui amigos
BRASÍLIA - "Em política, têm que
prevalecer as relações humanas", disse Lula ontem, num longo café da
manhã com jornalistas, no Planalto.
A frase, aparentemente tão simpática, foi num contexto bem diferente:
sempre tão afável, já famoso pelas tiradas bem-humoradas, Lula franzia
o cenho e elevava a voz justamente
ao falar (mal...) de seu antecessor direto, Fernando Henrique Cardoso.
Disse que a reeleição foi "desastrosa", que FHC se "isolou", não quis saber de governadores e muito menos
de ouvir líderes da oposição -como
ele próprio, na época. Depois, comparou maldosamente: "Como político,
não vou ficar sentado na minha empáfia". Pimba! Direto na testa de
FHC, conhecido, justa ou injustamente, pela "empáfia".
Ué! Mas Lula e FHC não são "amigos", como os dois vivem repetindo,
aliás, há anos e anos? Ué! Mas e as
tais relações humanas, tão importantes na política?
Lula explicou que nunca confundiu
"relações pessoais com relações políticas". Aí, virou uma salada, mas ele
preferiu usar a metáfora em outro
momento, para apostar que a reforma tributária vai ser aprovada:
"Uma salada de frutas de interesses,
mas vamos comer a fruta inteira",
disse. Anote aí. Pode ser um abacaxi.
Depois, o presidente disse ter "extraordinários amigos" no PSDB -e
deve ter pelo menos alguns mesmo,
principalmente aqueles decisivos para aprovar a reforma da Previdência
que os petistas se negaram a apoiar
no governo anterior e fazem agora.
Os dois, FHC e Lula, são os expoentes de uma guerrinha de futricas e
provocações entre tucanos e petistas
em Brasília, que se transforma numa
guerra sangrenta nos Estados. Especialmente em ano eleitoral.
Então, ficamos assim: os dois são
mui amigos, mas também são mui
adversários. Além da psicologia sucedido-sucessor, Lula é "filosoficamente" contra a reeleição, mas deixou
claro que vai disputá-la em 2006. E
FHC ou é candidato ou vai ser o principal cabo eleitoral tucano. Vale,
pois, o velho ditado: amigos, amigos,
negócios -e eleições- à parte.
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