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BOLSA-PROMESSA
Quando o então recém-eleito
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva anunciou, em sua cerimônia de
posse, um amplo programa destinado a permitir que todos os brasileiros
pudessem realizar três refeições por
dia, poucos poderiam duvidar de que
o Partido dos Trabalhadores chegava
ao Planalto com planos claros e definidos para a área social.
Afinal, por anos a fio, representantes do PT desenvolveram intensa retórica e militância no setor, não poupando os governantes que, em sua
avaliação, preferiam beneficiar privilegiados em detrimento de excluídos. Não havia movimento social
sem que algum ativista do PT estivesse presente, ajudando a firmar a convicção de que poucos poderiam conhecer melhor a realidade da pobreza -e, portanto, melhor combatê-la- do que o partido de Lula.
Passados quase oito meses da posse, no entanto, a área social do novo
governo tem apresentado mais problemas do que soluções. Um amontoado de ministérios e secretarias vai
batendo cabeça sem que o tão promovido Fome Zero tenha dito a que
veio. As energias solidárias que a sociedade mostrou-se pronta a despender, apoiando entusiasticamente o
que deveria ser um grande mutirão
de combate à miséria, acabaram dissolvidas na inépcia dos órgãos encarregados de realizar o prometido.
Não foram poucos os alertas de
pessoas ligadas a programas sociais
já existentes sobre os riscos embutidos na improvisação do projeto Fome Zero. O que a muitos pareceu
uma manifestação de resistência política aos novos condôminos do poder na verdade era um chamamento
ao realismo. Não foi preciso tanto
tempo para que o próprio petismo
começasse a compreender que as
coisas não se resolveriam na realidade tão facilmente quanto no salvacionismo dos discursos inflamados.
Na sexta-feira, os jornais noticiaram uma nova postergação do lançamento do projeto de unificação dos
programas sociais, estratégia que o
Planalto tardiamente decidiu adotar
na tentativa de obter melhores resultados na área social. O núcleo do governo deu-se conta de que alguns
"detalhes" não estavam prontos.
O Bolsa-Família, como passará a
ser designado o conjunto das iniciativas de renda mínima, seria apresentado à população como uma obra federal quando de fato é uma reunião
de ações que envolve também Estados e municípios. As reações dos governadores poderiam ser negativas,
afetando a aprovação da reforma tributária, que depende de uma costura
política à qual o presidente se dedicou pessoalmente. Novos acertos,
portanto, precisarão ser feitos.
É de esperar que o fiasco sirva para
o Planalto romper com a ineficiência
até aqui dominante. É forçoso constatar que a área social está a exigir
não reparos, mas uma profunda reformulação. Seria uma decepção, para dizer o mínimo, o PT não conseguir avançar em suas promessas sociais -ou relegá-las a um papel secundário, como o que já foi reservado ao antes festejado Fome Zero.
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