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SERGIO COSTA
Mera coincidência
RIO DE JANEIRO - Está aberta a
temporada de livres associações.
Com escândalos em série, é inevitável a tentação de procurar paralelos
históricos que possam dar algum
sentido a essa maluquice que nos
cerca. Depois da analogia Lula/
Freud com Getúlio Vargas/Gregório Fortunato, vão além do sufixo
algumas semelhanças entre o "Dossiêgate" e o caso Watergate.
Nos EUA (e aqui), tudo começa
com uma trapalhada: um grupo de
ex-agentes da CIA preso arrombando a sede do QG da campanha adversária, em Washington, para instalar escutas. O momento não poderia ser mais inoportuno também:
às vésperas das eleições, com o presidente em exercício apontado como favorito. Richard Nixon, sempre alegando ignorância sobre atos
de seus próximos, foi reeleito numa
avalanche de votos.
Seu oponente - sujeito politicamente correto e antibelicista- ficaria com a pecha do homem errado
na hora certa, por sua falta de jeito
para atrair eleitores. Depois, virou
álibi para quase todo arrependido:
"Não tenho nada com isso, votei em
[George] McGovern", lia-se nos
bottons (uma moda) à época.
Quanto mais os jornalistas seguiam a pista de um dinheiro não-contabilizado que servia, entre outras coisas, para bisbilhotar segredos dos adversários, mais o escândalo detonado pela trapalhada republicana encurralava o presidente
reeleito. Um a um, Nixon acabou rifando amigos e assessores. Até seu
vice caiu fora. Isolado, renunciou
para fugir do impeachment.
Esse foi o fim dessa história por
lá. Por aqui, o jogo ainda está em
aberto. Qualquer semelhança entre
os dois casos, como costumam prevenir alguns filmes nacionais ou de
Hollywood, terá sido mera coincidência. Alguns enredos cheios de
desculpas, assessores trapalhões e
uso de dinheiro escuso, infelizmente, só mudam de cenário.
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