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SÉRGIO DÁVILA
Sem chave
nem voto
ATÉ AS PEDRAS do Capitólio
sabem que essa eleição presidencial norte-americana vai ser definida por cinco ou seis Estados indecisos, em que ainda não há um
favorito claro, ou pêndulos, que oscilam entre candidatos democratas
e republicanos a cada ciclo de quatro anos. Dois dos mais importantes são Ohio e Michigan. Neles, Barack Obama e John McCain estão
em empate técnico.
Muitas características os unem.
Localizados no Meio-Oeste norte-americano, na região dos Grandes
Lagos, são governados por democratas, respondem respectivamente pela sétima e a oitava maiores
populações dos EUA e contribuem
no Colégio Eleitoral com 20 votos e
17 votos. A instância é a que de verdade escolhe o presidente norte-americano, em 15 de dezembro, já
que a eleição aqui é indireta.
Esses 37 votos são preciosos numa corrida tão apertada como a
atual, em que vence quem tiver 270
votos, ou metade mais um. Representam quase 14% da vitória. Não é
exagero dizer que se Obama levar
os dois, vira presidente -o mesmo
para McCain. Outro aspecto une
Ohio e Michigan: está em pleno
curso nesses Estados uma campanha baseada em regra eleitoral que
pode ser resumida pela frase "Lose
your house, lose your vote" (Perca
sua casa, perca seu voto).
Segundo a norma, os mesários
podem se recusar a deixar o eleitor
votar se tiverem motivos para acreditar que ele não tem endereço fixo
na região onde está a urna. A onda é
estimulada pelo comando nacional
do Partido Republicano. Certamente motivos patrióticos movem
os bons rapazes da agremiação de
George W. Bush e McCain, mas vale a pena destrinchar um pouco a
crise hipotecária que levou à crise
financeira pela qual o país e o mundo passam nesse momento.
Ela começou com o boom de mutuários inadimplentes, há 13 meses. Estima-se que 2 milhões de famílias tenham perdido suas casas
nesse período e que outros 3 milhões estejam no mesmo caminho.
É muito voto. Dois dos Estados
mais afetados? Ohio e Michigan.
Eu estive no primeiro na virada do
ano. Visitei um outrora próspero
bairro chamado Slavic Village, em
Cleveland. Havia virado uma cidade-fantasma daquelas de filme de
Velho Oeste americano.
O sentimento que dominava as
poucas famílias que sobraram e as
que viviam em abrigos improvisados pela região era um só: a culpa é
de Bush. São pessoas que vão votar
em Obama. Os números confirmam: pesquisa da última quinta-feira do "New York Times" conclui
que o eleitor tem a economia como
primeira preocupação, acha que a
culpa pela situação econômica
atual é do presidente republicano e
vê Obama como o mais preparado
para lidar com esse aspecto do país.
Corrigindo: são pessoas que
iriam votar em Obama. Perderam
sua casa, perderam seu voto.
sdavila@folhasp.com.br
SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington.
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