São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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SÉRGIO DÁVILA

Sem chave nem voto

ATÉ AS PEDRAS do Capitólio sabem que essa eleição presidencial norte-americana vai ser definida por cinco ou seis Estados indecisos, em que ainda não há um favorito claro, ou pêndulos, que oscilam entre candidatos democratas e republicanos a cada ciclo de quatro anos. Dois dos mais importantes são Ohio e Michigan. Neles, Barack Obama e John McCain estão em empate técnico.
Muitas características os unem.
Localizados no Meio-Oeste norte-americano, na região dos Grandes Lagos, são governados por democratas, respondem respectivamente pela sétima e a oitava maiores populações dos EUA e contribuem no Colégio Eleitoral com 20 votos e 17 votos. A instância é a que de verdade escolhe o presidente norte-americano, em 15 de dezembro, já que a eleição aqui é indireta.
Esses 37 votos são preciosos numa corrida tão apertada como a atual, em que vence quem tiver 270 votos, ou metade mais um. Representam quase 14% da vitória. Não é exagero dizer que se Obama levar os dois, vira presidente -o mesmo para McCain. Outro aspecto une Ohio e Michigan: está em pleno curso nesses Estados uma campanha baseada em regra eleitoral que pode ser resumida pela frase "Lose your house, lose your vote" (Perca sua casa, perca seu voto).
Segundo a norma, os mesários podem se recusar a deixar o eleitor votar se tiverem motivos para acreditar que ele não tem endereço fixo na região onde está a urna. A onda é estimulada pelo comando nacional do Partido Republicano. Certamente motivos patrióticos movem os bons rapazes da agremiação de George W. Bush e McCain, mas vale a pena destrinchar um pouco a crise hipotecária que levou à crise financeira pela qual o país e o mundo passam nesse momento.
Ela começou com o boom de mutuários inadimplentes, há 13 meses. Estima-se que 2 milhões de famílias tenham perdido suas casas nesse período e que outros 3 milhões estejam no mesmo caminho. É muito voto. Dois dos Estados mais afetados? Ohio e Michigan.
Eu estive no primeiro na virada do ano. Visitei um outrora próspero bairro chamado Slavic Village, em Cleveland. Havia virado uma cidade-fantasma daquelas de filme de Velho Oeste americano.
O sentimento que dominava as poucas famílias que sobraram e as que viviam em abrigos improvisados pela região era um só: a culpa é de Bush. São pessoas que vão votar em Obama. Os números confirmam: pesquisa da última quinta-feira do "New York Times" conclui que o eleitor tem a economia como primeira preocupação, acha que a culpa pela situação econômica atual é do presidente republicano e vê Obama como o mais preparado para lidar com esse aspecto do país.
Corrigindo: são pessoas que iriam votar em Obama. Perderam sua casa, perderam seu voto.

sdavila@folhasp.com.br


SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington.


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