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CARLOS HEITOR CONY
Política e vida pública
RIO DE JANEIRO - Semana passada, aos 70 e tantos anos, Brigitte
Bardot fez declarações que trouxeram seu nome à mídia internacional. Entre outras coisas interessantes, ela disse que ao longo de sua vida pensou diversas vezes no suicídio e que a política a enojava.
Ela dividiu, com Marilyn Monroe, a condição de incontestável
símbolo sexual. Enquanto a americana morreu cedo, em condições
até hoje misteriosas (falaram em
suicídio por causa do relacionamento com os dois Kennedys, John
e Bob), a francesa retirou-se na Côte, cuidou de cachorros e defendeu
as baleias.
Deve ter tido seus motivos para
enojar-se da política. Muita gente
também sente asco não só pela política mas pela vida pública em geral. Todos têm suas razões.
No meu caso, não posso falar em
nojo, mas em desencanto. Aos 20
anos, saído do seminário, enfrentei
os abrolhos do mundo. Sabia latim,
mas não sabia tomar um bonde. Toda vez que o condutor passava pelo
meu banco, eu pagava a passagem
novamente -e o filho da mãe sempre aceitava.
Deu-se que o pai me apresentou
a um engenheiro que testou minha
redação: pediu que fizesse o discurso de posse de um imaginário prefeito do Rio. Três laudas, não mais.
Sozinho numa sala de seu escritório, desovei o texto, falando nos
problemas da época: enchentes no
Catumbi e desmonte do morro de
Santo Antônio. Prometi resolver os
dois problemas.
O engenheiro leu, guardou o discurso na gaveta, considerou-o mais
ou menos. Um mês depois, ele foi
realmente nomeado prefeito do
Rio, então Distrito Federal. Ouvi pelo rádio o seu discurso de posse.
Prometia acabar com as enchentes
do Catumbi (que nunca acabaram)
e desmontar o morro, que só foi
desmontado 20 anos depois.
Radicalizei. Política e vida pública, nunca mais.
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