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BORIS FAUSTO
O alcance da onda
As eleições deste ano estão expressando aquilo que analistas
das mais variadas tendências vêm
chamando de "onda petista". Há boas
razões para isso. O PT ampliou consideravelmente a bancada no Congresso, em algumas Assembléias Legislativas, e seu candidato à Presidência da
República obteve expressiva votação
majoritária no primeiro turno.
Se há consenso a respeito da existência da onda, há bem menos certeza sobre seu alcance no tempo. Sem dúvida, o êxito eleitoral petista tem a ver
com um longo e persistente trabalho
de afirmação partidária -um bom
indicador, nesse aspecto, para outros
partidos que pretendam ganhar uma
base social mais sólida.
Mas, ficando no caso da Presidência
da República, seria lícito dizer que o
nome de Lula está sendo objeto de
tanto apoio porque o eleitorado passou a encarnar nele virtudes que o
transformaram em uma espécie de líder incontestável?
Na atropelada dos últimos dias da
disputa, tende-se a esquecer alguns aspectos da campanha presidencial, caracterizada em parte pelo "desejo de
mudança", sem que esse desejo se
cristalizasse, por vários meses, em um
nome. Se afirmo que o "desejo de mudança" caracterizou só em parte a
campanha, é porque outros fatores,
especificamente políticos, entraram
em cena.
Enumero, dentre eles, a crise da base
de apoio ao governo, que acabou se
estilhaçando; o apoio direto ou indireto ao candidato do PT, impensável até
bem pouco, de figuras oligárquicas
em declínio, mas ainda com força em
seus Estados; a inexistência de uma
âncora política do porte do Plano
Real; a indicação de um candidato governista competente, mas cercado de
ressentimentos à sua volta e sem o carisma de Fernando Henrique -qualidade relevante para ganhar eleições,
embora não necessariamente para governar.
Além disso, lembremos que a volatilidade das opções -reflexo, entre outras razões, da fragilidade partidária- manifestou-se, mais uma vez, ao
longo deste ano. O "desejo de mudança" e os apoios heterodoxos levaram
um bom tempo para se concentrar no
candidato petista.
A candidatura de Roseana Sarney,
cogitada como simples carta no jogo
eleitoral por uma parcela do PFL, cresceu enormemente em poucas semanas, quando Lula ainda rondava os
30% de intenções de voto, e só se apagou nas circunstâncias conhecidas.
Mais longe foi Ciro Gomes, chegando
aos 30% de intenções de voto, declinando vertiginosamente por sua estranha opção de ser "o algoz de si mesmo".
Só a partir daí, a candidatura de Lula
se consolidou definitivamente, beneficiada, entre outros fatores, pelo tiroteio entre Serra e Ciro, que lhe permitiu navegar em um mar róseo de sentimentalismo e lugares-comuns, em
que esteve muito à vontade.
Essas observações não pretendem
ser uma previsão para o futuro. Pretendem, sim, acentuar que a onda petista tem fragilidades. O tempo dirá se
ela veio para ficar por um longo período ou se, na volta da esquina, irá se
desmanchar no ar.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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