São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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PROBLEMAS NO HAITI

É difícil crer que o recrudescimento da violência no Haiti não fosse uma possibilidade levada em conta pelo governo brasileiro e pelo Congresso Nacional quando se dispuseram a ceder tropas para uma missão de paz da ONU naquele país. Parece óbvio que ao enviar 1.200 militares e aceitar o comando da missão, as autoridades tenham concluído que, apesar de potenciais reveses, a participação poderia ser útil aos haitianos, além de resultar em maior prestígio internacional para Brasília.
Agora que dificuldades começam a aparecer, elevam-se vozes para criticar a presença brasileira. Ora, é preciso ter em mente que o Brasil não interveio no Haiti. Trata-se de uma tropa sob bandeira da ONU, que não se destina a resolver os gravíssimos problemas locais, mas a manter um mínimo de ordem em meio ao caos que, mais uma vez, ameaça o país. Fossem militares de outra procedência, a situação seria a mesma.
Por enquanto, cabe ao Brasil e à comunidade internacional procurar avançar na busca de soluções mais duradouras. Do ponto de vista da força militar, é fundamental que os mais de 3.000 homens prometidos por outras nações sejam o quanto antes deslocados para o Haiti.
O agravamento das condições locais, com partidários do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide reorganizando-se para exigir sua volta, tende, sem dúvida, a aumentar os riscos.
O que esse cenário reforça é a importância de que não se desperdice mais uma oportunidade de criar o embrião de um Estado viável na ex-colônia francesa. O Itamaraty deve pressionar os países ricos, particularmente os EUA e a França, a elaborar e financiar um plano de recuperação econômica para o Haiti que ofereça perspectivas concretas.
Caso contrário, o país continuará a ser um foco de instabilidade e a participação brasileira estará fadada a tornar-se mais uma missão de emergência com resultados frustrantes.


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