São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2010 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Agenda capitalista moderna para o Brasil
LUIZ AUGUSTO CANDIOTA
Faz tempo, muito tempo, que a palavra capitalismo em nosso país tornou-se quase um palavrão. Por que será? Qual o medo real, fruto do desconhecimento por parte das "elites" políticas, intelectuais e empresariais deste sistema econômico? O Brasil precisa ter um sistema capitalista moderno, que nos tire do ranço patrimonialista regido por um Estado concedente de benesses a seus privilegiados e mantenedor de uma maioria ignorante e de um "sofisticado" sistema de corrupção favorável à não competição e à perpetuação do atraso. Necessitamos de um capitalismo que incremente o poder efetivo dos cidadãos sobre o Estado, que traga segurança jurídica e respeito aos direitos individuais. Um capitalismo verdadeiramente competitivo, que estimule a abertura total de nossa economia e promova a produtividade, retirando por completo do Estado a participação em determinados setores. O Brasil está cansado do discurso e da prática daqueles que proclamam ser social-democratas, que praticam um socialismo às avessas da modernidade do conhecimento e tentam controlar a democracia. Não devemos temer aqueles que dizem ser o capitalismo concentrador de rendas e ampliador de desigualdades. Não há exemplos concretos de que isso seja verdade em regimes abertos, democráticos e de sociedades pluralistas, ou que tal regime tenha gerado frutos, em seu conjunto, mais prejudiciais do que o que praticamos por aqui. O Brasil não deve temer os efeitos das recentes privatizações, mas não deve permitir que certos setores se concentrem nas mãos de poucas empresas, que acabam por "dominar" seus reguladores, o Estado, em um jogo de interesses e corrupção em que a melhoria e a competitividade dos serviços não é acompanhada pela redução dos preços ao consumidor. Não é razoável que tenhamos um dos maiores mercados de telefonia do mundo e a maior das tarifas dentre os países do Ocidente. É preciso aumentar a competição, não reclamar da privatização. O aumento dos tentáculos do Estado vai na contramão das nossas necessidades e nos trará custos altíssimos, a serem pagos pelas futuras gerações. A agenda do capitalismo que proponho é a de um Estado presente única e exclusivamente nas áreas de educação, saúde e segurança. Essa presença deve ser exemplar, com serviços e mão de obra de qualidade. Ao setor privado só restará atuar nessas áreas caso tenha a competência suficiente de prover serviços competitivos e superiores aos prestados pelo Estado. O Estado não deve ter bancos, empresas de petróleo, de telefonia e de energia, dentre outras muitas. São apenas grandes cabides de empregos e fontes inesgotáveis de corrupção e transferência de riqueza para poucos. O Estado não tem competência para escolher quem serão os vencedores e para premiá-los antecipadamente por meio de vultosos subsídios e proteções. Para o Brasil urge uma nova agenda, que saiba usufruir da competição aberta e do desejo empreendedor do ser humano. LUIZ AUGUSTO CANDIOTA é sócio-fundador do Grupo Lacan. Foi diretor de política monetária do Banco Central (governo Lula). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Herman Jacobus Cornelis Voorwald: As eleições e a expansão da universidade Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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