São Paulo, sexta, 21 de novembro de 1997.



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A rua ferve

CLÓVIS ROSSI
Luxemburgo - Frio de três graus, chuva intermitente, uma neblina londrina, dia útil, quase meio de semana.
Apesar de tudo isso, Luxemburgo parou ontem para ver a segunda edição das "Marchas Européias contra o Desemprego, a Exclusão e a Precariedade". A primeira fora em Amsterdã, em junho, quando da cúpula de fim de semestre da UE (União Européia). Reunira 50 mil pessoas e espantara a mídia européia, que se havia acostumado ao declínio do sindicalismo e a predominância absoluta dos burocratas e empresários.
Desta vez, impressiona mais, por se realizar em um país pequeno. Os cerca de 20 mil manifestantes representam 5% da população local de 400 mil habitantes.
Da primeira à última coluna da marcha, foram 110 minutos de cores, bandeiras, cânticos, faixas e uma babel de idiomas, resumida no colete vestido por um dos grupos: "Chômage ya basta".
Reunia o francês "chômage" (desemprego) ao espanhol "ya basta", que dispensa tradução.
A palavra de ordem principal estava resumida na faixa levada pela central sindical luxemburguesa, a OGB-L: "Basta de Europa de blablablá; emprego agora e para todos".
Compreensível em uma área em que há quase 18 milhões de desempregados e na qual, os governantes, até agora, têm gerado mais documentos a respeito do emprego do que empregos.
O movimento social começa a voltar às ruas na Europa e acabou por abrir espaço na agenda dos governantes. A marcha nem havia terminado ainda e lideranças sindicais estavam sendo recebidas pelos primeiros-ministros de Luxemburgo, Holanda e Reino Unido, presidentes atual, anterior e futuro da UE, respectivamente.
Os governantes podem não ter lido a faixa de um sindicato francês, mas intuem que ela é verdadeira. Dizia: "Quem semeia a miséria, colhe a revolta", o que, em francês, dá rima, mas não dá solução em idioma algum.



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