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CLÓVIS ROSSI
A "coalizão" e o banquete
SÃO PAULO - Como diria o presidente Lula, "nunca neste país" ficou
tão transparente que a chamada
"coalizão" que o governo pretende
formar não envolve nada além do
tradicional butim de cargos públicos. É verdade que um ou outro político finge que está em questão algum projeto de país. Mas ninguém
acredita.
Nem pode acreditar. Alguém aí
tem a mais remota noção de qual é o
projeto de país do PMDB, o parceiro mais desejado pelo governo? É
possível haver um projeto de país
em um partido que tem, numa ponta, o governador Roberto Requião
(Paraná), e, na outra, o deputado
Delfim Netto?
Poderia citar uma pilha de outros
pares tão incompatíveis como os
dois, unidos apenas pelo apetite pelo poder.
Mais: qual é o projeto de país do
próprio PT? Seria o grito de "acabou a era Palocci", disparado pelo
articulador político Tarso Genro?
Não pode ser, porque o articulador
foi desautorizado pelo presidente
da República, levou um pito, calou a
boca, enfiou a viola no saco e ainda
elogiou quem lhe passou o pito, em
cena explícita de submissão, raramente vista.
Como é possível levar a sério
qualquer articulação tocada por
quem diz enfaticamente uma coisa,
é desmentido com a mesma ênfase,
mas continua articulando?
Se não vale o "acabou a era Palocci", vale então o "viva a era Palocci"?
Também não, porque o presidente
vive cobrando "propostas concretas" para um crescimento mais acelerado, o oposto do que ocorreu no período Palocci, que, aliás, não era
período Palocci, mas período Lula,
como o próprio presidente deixou
claro ao desautorizar Tarso Genro.
Tudo somado, tem-se que nem
Lula sabe que "propostas concretas" poderiam servir de cimento para a "coalizão".
Resta, pois, o butim, o grande
banquete do mundo político.
crossi@uol.com.br
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