São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

25 anos vivendo com HIV/Aids

LAURENT ZESSLER


Há 25 anos, os primeiros casos de Aids foram detectados. Desde então, o vírus HIV já causou mais de 25 milhões de mortes


O UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) divulga hoje os dados da epidemia global da Aids em 2006. O Aids Epidemic Update serve de referência para formuladores de políticas públicas, organismos da sociedade civil e demais atores que trabalham diretamente na resposta à epidemia, informando e orientando sobre os rumos da Aids no mundo a partir dos números apresentados em cada região.
Há 25 anos, os primeiros casos de Aids foram detectados. Desde então, o vírus HIV já causou mais de 25 milhões de mortes. Em 1996, mais de 20 milhões de pessoas viviam com o HIV. Hoje, são cerca de 40 milhões.
A África subsaariana apresenta o maior número de casos, em torno de 26 milhões de pessoas. Fortes crescimentos são registrados no Sul e no Sudeste da Ásia. A América Latina é o terceiro continente em número de pessoas vivendo com HIV/Aids. Com o Caribe, a América Latina detectou quase 2 milhões de casos em 2006.
O desafio para os países latino-americanos é atrair a atenção internacional para ampliar a resposta à epidemia, fortalecendo o sentimento de urgência e prioridade, uma vez que a baixa prevalência reduz a visibilidade da região diante da gravidade da situação em outras partes do mundo.
O Brasil é considerado um modelo nas áreas de prevenção e tratamento. O país responde por um terço das infecções na América Latina, ou seja, estima-se que 600 mil pessoas vivam com HIV/Aids, das quais cerca de 170 mil estão em tratamento. Em 20 anos de resposta à Aids, o país mantém papel de liderança e se depara com as novas tendências da epidemia, entre as quais se destaca a feminização, a pauperização e a interiorização.
Para responder à Aids, o Unaids busca apoiar os países e promover a captação de recursos para enfrentamento em todo o mundo. De 1996 até 2005, os valores direcionados à resposta à epidemia cresceram de US$ 300 milhões para US$ 8,3 bilhões. Estima-se que esse número chegará a US$ 10 bilhões em 2007. Porém, seriam necessários investimentos da ordem de US$ 18,1 bilhões em 2007 e US$ 22,1 bilhões em 2008 para avançar rumo ao acesso universal.
Diante dos dados do Unaids, fortalecem-se os argumentos pela mobilização em torno do enfrentamento à epidemia. Governos, sociedade civil, pessoas vivendo com HIV/Aids, agências internacionais e setor privado devem se unir a favor de mensagens de incentivo à ação e ao apoio.
Anular os motores fundamentais da crise, como a desigualdade entre gêneros, a violência sexual, a homofobia, o estigma e a discriminação ligados à Aids, é a fórmula ideal para que a resposta à epidemia seja incorporada a um novo "ethos" social.
Os esforços para superar o HIV devem se concentrar em formas criativas para responder à epidemia segundo o contexto em que se apresenta, no reforço dos compromissos assumidos por cada ator, no fortalecimento dos laços de cooperação para a resposta, na participação dos diversos atores sociais, no enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas.
Uma ação estratégica de enfrentamento da Aids deve prevenir e tratar simultaneamente. Tratamento não se sustenta a longo prazo sem prevenção. Os preços dos medicamentos diminuíram graças aos acordos com a indústria, novos produtos farmacêuticos são desenvolvidos, parceiros internacionais e governos continuam a financiar os custos das ações de prevenção, testagem e tratamento. Entretanto, apenas uma em cada dez pessoas vivendo com HIV sabe sobre seu status, por isso a promoção da testagem deve ser estimulada.
Prevenir a Aids hoje é possível. O uso do preservativo masculino é a forma mais segura de impedir a infecção por meio do sexo. Há ainda a opção do preservativo feminino, apesar das restrições de preço e de acesso. A transmissão do HIV de mãe para filho já pode ser evitada.
Devemos nos preparar para conviver com o HIV pelos próximos 25 anos. Seremos desafiados a encontrar novas fórmulas para diminuir a vulnerabilidade em todas as populações e cuidar das pessoas vivendo com HIV/Aids, respeitando os princípios firmados pelos direitos humanos e seguindo rumo ao acesso universal em todo o mundo, enquanto buscamos a vacina ou a cura.

LAURENT ZESSLER , médico infectologista e especialista em saúde pública, é representante do Unaids no Brasil.


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