São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2006

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Por um modelo econômico de riqueza

CHARLES A. TANG


Cada vez mais consolidamos nossa estrutura do atraso e damos mais importância ao assistencialismo do que à inclusão econômica e social


O MODELO de riqueza de um país prioriza o crescimento econômico e a formação de prosperidade a fim de melhorar o nível econômico e social de seu povo. Começa pela visão política de um governante ou de um partido que queira ver o país prosperar e estabelece uma meta estratégica e pragmática de desenvolvimento. O planejamento envolve a reformulação da estrutura arquitetada para criar nosso atraso e o rompimento com tabus e mitos que ajudam a manter a pobreza. E exige uma visão que eleve a auto-estima da nação, mostrando do que ela é capaz.
O Brasil já passou por várias experiências dessa natureza que transformaram a nação. O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek para industrializar e fazer crescer o país causou uma revolução na economia brasileira. Em pouco tempo, a nação passou de um modelo econômico agrário para uma economia industrializada.
Até o breve governo Collor conseguiu fomentar a visão de que o Brasil poderia se inserir no Primeiro Mundo, graças a que algumas idéias de abertura econômica foram adotadas e se fez um esforço para a modernização de produtos "made in Brazil".
Nos anos 70, fui responsável pela introdução do leasing no Brasil, implantando a primeira empresa do gênero para o Bank Boston. Foi assim que cheguei a participar do auge da fase do chamado "milagre econômico brasileiro", quando os índices de crescimento de nossa economia chegaram a crescer mais que os da China atual. Podemos e devemos novamente reviver esse "sonho brasileiro".
No entanto, a prioridade brasileira das ultimas décadas tem se centrado exclusivamente na estabilidade monetária a qualquer custo -mesmo ao custo de nossa pobreza sustentada.
A política econômica e monetária implantada trata de atender apenas ao objetivo de pseudo-estabilidade.
Sem nenhum outro plano, o país vai à deriva, levado pelas circunstâncias e pela fé total em que a nossa estabilidade monetária trará automaticamente o crescimento sustentado.
Assim, o que plantamos é a estagnação econômica, o crescimento dos nossos bolsões de miséria, o abandono e o desmantelamento de nossa infra-estrutura de logística, de saúde, de educação, entre outras. Cada vez mais consolidamos a nossa arquitetura estrutural do atraso e damos mais importância ao assistencialismo do que à inclusão econômica e social.
Servimos até de lição exemplar para quem não quiser incorrer no mesmo erro. E tamanha tem sido a fé que nem mesmo o repetido e permanente insucesso dessas três décadas perdidas pela nação conseguem abalar a certeza do atual modelo econômico.
Nossos dirigentes seguem prometendo que logo chegaremos à riqueza, mas se mostram incapazes de entender que um modelo econômico de pobreza só pode gerar mais pobreza.
Não temos, há anos, nem um cenário externo desfavorável para culpar. Fomos incapazes de colher os frutos desse boom internacional, o qual tem sido tão favorável ao Brasil.
O que falta para estabelecer uma nova prioridade nacional, de prosperidade, em vez de só nos dedicarmos a essa ilusória e custosa estabilidade?
Para termos um plano econômico de riqueza para um Brasil próspero, é preciso reconhecer que só se consegue uma verdadeira estabilidade monetária com a construção de riqueza, com o crescimento econômico, com o acúmulo da reserva de divisas. Repito: o Brasil reúne mais condições que a China ou o Japão para ser o maior "tigre" de exportações do mundo e uma superpotência econômica.
Os "tigres asiáticos" adotaram uma prática muito diferente da nossa -a mercantilista-, mantendo seu câmbio em nível favorável a fim de garantir um fluxo contínuo de receita de exportações e para a geração de empregos. Enquanto isso, criamos até um câmbio fictício para dificultar nossas exportações e atração de investimentos. A aliança entre esse câmbio, o custo Brasil e a nossa estrutura de entraves obriga as empresas nacionais a gerar empregos fora do país. O caminho da riqueza dos "tigres asiáticos" -o mercantilismo- deve servir de modelo para o Brasil.
Além das riquezas conhecidas que o Brasil possui, há duas outras pouco compreendidas: 1) a capacidade comprovada de sua classe empresarial; 2) a cultura do povo, que adere e aceita qualquer sacrifício para alimentar o sonho e a esperança de dias melhores.
Graças a isso, todos os malfadados planos e pacotes econômicos adotados nas últimas décadas sempre receberam total apoio do povo. Não há povo que tenha melhor cultura para apoiar uma reestruturação econômica do atual modelo de entraves e para a adoção de um plano que traga prosperidade para a nação.
Embora uma grande massa de brasileiros, de tão excluída, nem mais sonhos tenha, a história ensina que a construção das nações acaba sendo feita pela minoria que ainda sonha. Portanto, além de alimentar a esperança de atingir nosso destino de grandeza, devemos tratar de implantá-la. Criar um "Brazilian dream"!

CHARLES ANDREW TANG , 60, membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, é presidente binacional da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.


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