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MP devolvida
FEZ BEM o presidente do Senado, Garibaldi Alves
(PMDB-RN), em devolver
ao governo a medida provisória
446, que anistia as entidades filantrópicas ameaçadas de perder
a isenção fiscal.
A iniciativa é digna de nota, em
primeiro lugar, por repelir o abuso na edição de medidas provisórias pelo Executivo. As MPs continuam trancando a pauta do
Congresso sem cumprirem os
requisitos de urgência e relevância previstos na Constituição.
O gesto de independência do
presidente do Senado é a segunda decisão do tipo tomada desde
1989. Seguiu-se a repetidas queixas de Garibaldi Alves contra a
enxurrada de MPs. O governo
Lula qualificou a ação de "inusitada, política e pessoal".
Vale lembrar que já estava em
curso neste ano uma reação ao
excesso de MPs. Em maio, o Supremo Tribunal Federal havia
restringido a criação de despesas
por meio desse instrumento.
A decisão do presidente do Senado é saudável por se contrapor
a uma prática do Planalto que representa submissão quase absoluta do Congresso à agenda governamental. Configura-se também excelente oportunidade para emendar a Carta, aumentando
requisitos para a edição das MPs
e pondo fim ao trancamento automático da pauta.
Além disso, o Legislativo tarda
em estabelecer parâmetros para
julgar a admissibilidade das
MPs, que iniciam sua tramitação
em comissões mistas as quais deveriam decidir se os textos respondem às prerrogativas constitucionais. Tais comissões atualmente nem sequer se reúnem.
Apesar da importância simbólica, o ato do presidente do Senado de devolver a MP 446 pode ser
revisto. A decisão precisa ser referendada na Comissão de Constituição e Justiça e no Plenário.
Além de antepor-se à voracidade legislativa do Planalto, outro
mérito da atitude de Garibaldi
Alves é desafiar uma medida escandalosa. A anistia proposta beneficiaria entidades "filantrópicas" suspeitas de fraude. A desfaçatez é tamanha que há dificuldades para reunir defensores na
própria base governista.
Em vez de insistir na "MP da
pilantropia", o governo deveria
deixar o Congresso legislar. Um
projeto de lei de teor semelhante
à MP devolvida, mas sem anistia,
tramita na Câmara.
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