São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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Correção de rumos

Cenário externo e desajustes internos evidenciam novas dificuldades e exigem que o futuro governo promova forte mudança na economia

O primeiro ano depois do que se pode chamar de Grande Recessão termina com alertas e sustos que nos lembram de que os efeitos piores da crise ainda deverão ser depurados por muitos anos. Embora seja remoto o risco de novas catástrofes, o Brasil tem de se preparar para um período diferente daquele dos anos Lula, nos quais erros e inércia institucional não cobraram seu preço, dado o "boom" simultâneo de China e EUA.
O alerta mais recente de um ano repleto de oscilações de humor é o da crise fiscal e bancária irlandesa, uma preocupação que parece distante e exótica, mas é um lembrete de que ainda haverá tumultos financeiros periódicos e que era uma ilusão a ideia de rápida recuperação dos países ricos, comemorada no primeiro terço do ano pelos mercados financeiros.
O crescimento se dera sobre terra arrasada. E o resto de fantasia sobre a recuperação rápida se esgarçou com o desvanecimento do estímulo econômico propiciado pelos gastos dos governos, em meados do ano, além da ameaça de inadimplência da Grécia.
A expansão dos emergentes também teve algo de ilusório. Basta considerar o caso brasileiro. O PIB deve crescer entre 7% e 8% em 2010. A média do biênio 2009-2010 ficará em torno de 3,5%. E as perspectivas para 2011 são de uma alta de 4,5% do PIB.
A queda do ritmo das economias em desenvolvimento mais bem sucedidas tende a ocorrer da Ásia à América Latina. Além do fim do ciclo de crescimento sobre uma base fraca, a China dá sinais de que precisa não apenas enxugar a torrente de estímulos econômicos de 2008-09 como conter a ameaça de inflação crescente e o risco do estouro de bolha de preços causada pelo superinvestimento no setor imobiliário.
A Europa, como fica evidente não apenas pelos exemplos de Grécia, Portugal e Irlanda, mas também de Espanha e Reino Unido, terá de digerir suas dívidas públicas, o que terá o efeito de reduzir o crescimento da região. Embora tenha sido o epicentro da crise, os EUA crescerão um pouco mais que os países da eurozona.
No entanto, as medidas tomadas pelos americanos com o objetivo de evitar deflação e novo mergulho na recessão tornam o resto do mundo um lugar mais perigoso: a maciça "impressão" de dólar eleva o risco de bolhas de preços, de superoferta de crédito em emergentes, de valorização excessiva das demais moedas e de novas tensões comerciais.
Nesse cenário, não há riscos importantes, diretos e imediatos para o Brasil. Mas o país não poderá contar com o crescimento explosivo do comércio mundial e dos preços das commodities, que permitiu a solução de problemas como crises de financiamento externos iminentes. E o aumento de gastos públicos nos anos Lula, em especial das despesas anticrise, esgotou o espaço para mais liberalidade fiscal. É hora de uma forte correção de rumos. Um governo apenas de "continuidade" em 2011 será um governo irresponsável.


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