São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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DÚVIDA NA BASE

O fracasso dos entendimentos entre PT e PMDB para que esta legenda participasse do ministério de Luiz Inácio Lula da Silva tem um significado evidente: a consolidação de uma base parlamentar minimamente confortável para o futuro governo permanece uma questão em aberto. O assunto, fundamental para a "governabilidade", fica na dependência de negociações e processos de cooptação bem mais pontuais, cujo resultado final é incerto.
A peculiaridade das tratativas entre a cúpula petista e a peemedebista remonta ao fato de que esta última é aliada de longa data da coalizão que sustentava Fernando Henrique Cardoso, tendo inclusive indicado a candidata a vice-presidente da República na chapa do tucano José Serra. A fatia do PMDB que apoiou Lula nas eleições não detém poder na legenda. Desde o início das conversas entre PT e PMDB, a necessidade de tentar agradar às duas alas peemedebistas se impôs como um complicador, o qual, ao final, não foi contornado.
O risco da cúpula do PMDB é o de ver seu poder progressivamente esvaziado uma vez perdida a capacidade de fazer nomeações e manejar orçamentos no Executivo. Comparativamente a PSDB e PFL, o PMDB é uma legenda muito menos coesa. Vale lembrar que é esperada para o início do ano uma migração parlamentar para legendas governistas.
Já o risco da cúpula petista é o de transformar a tarefa de construir maioria parlamentar num renitente balcão de negociações "de varejo" e de, assim, transmitir ao público uma sensação de fraqueza.
É possível que tucanos e pefelistas formem um bloco de oposição ao governo Lula no Legislativo. Nessa hipótese, vão tentar cooptar peemedebistas para aumentar seu poder de barganha e fortalecer seu projeto de retomada da Presidência em 2006. No pólo oposto estará o poder do Executivo federal, que tradicionalmente tem prevalecido sobre o oposicionismo. O início de 2003 será decisivo para saber o resultado dessa disputa, que determinará as reais condições de governo para Lula.


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