São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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CERCO A SADDAM

O tempo está acabando para Saddam Hussein. O inventário dos programas iraquianos de armas que o ditador enviou para a ONU não foi considerado preciso o bastante. Cresce assim a possibilidade de que se declare que o Iraque não está cumprindo a resolução das Nações Unidas que exige o desarmamento do país, o que abre a perspectiva de uma ação militar contra Saddam.
Um funcionário do governo dos EUA chegou a afirmar que o relatório iraquiano tinha lacunas o suficiente para passar um tanque. Uma reação contrária dos norte-americanos já era esperada, mas mesmo o normalmente equilibrado inspetor-chefe da ONU, o sueco Hans Blix, viu, numa avaliação preliminar do texto de 12 mil páginas, certas inconsistências.
Pelo que os norte-americanos já deixaram vazar para a imprensa, a Casa Branca esperará até a última semana de janeiro para obter o aval do Conselho de Segurança (CS) da ONU para uma operação militar contra o Iraque. Na hipótese de o CS não chancelar o ataque, são grandes as chances de Washington agir unilateralmente. O próprio presidente George W. Bush já afirmou mais de uma vez que os EUA agirão contra o Iraque com ou sem o apoio da ONU.
O "prazo" da Casa Branca, que foi reportado pelo jornal norte-americano "The Washington Post", é consistente com o momento mais propício para a ação militar, que ocorre entre o início de janeiro e o final de fevereiro, meses em que o calor é menos intenso na região.
O discurso cada vez mais belicoso de Washington pode ser visto como uma forma de pressionar o Iraque a desarmar-se e evitar a guerra ou como um elaborado roteiro para chegar ao pretexto que vai deflagrar uma ação decidida já há muito tempo. Como bem colocou um diplomata europeu, a Europa torce pela primeira opção, mas suspeita de que a segunda seja a mais realista. Ao que parece, o mundo está assistindo a uma peça de teatro cujo final já é conhecido, e temido: a guerra.


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