UOL




São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

O festim

RIO DE JANEIRO - Foi comovente a prestação de contas feita pelo presidente Lula de seu primeiro ano de governo. Superou todos os antecessores em matéria de auto-elogio e só faltou atribuir-se o mérito de o Sol nascer todos os dias.
Jogou para o futuro todos os desafios da hora presente -e, por falar em presente, presenteou-se e presenteou seus auxiliares com um assombroso festim comemorativo do Natal, do fim de ano e de seus genéricos triunfos.
Louve-se a economia nos gastos, pois um único bródio responderá por três. Outro governante promoveria três banquetes, um para o Natal, outro para o fim de ano e um terceiro para a confraternização do poder, que me parece um pleonasmo, pois o governo confraterniza-se diariamente nas páginas do "Diário Oficial".
Tem mais: iniciou o ano e a gestão prometendo acabar com a fome, num programa complicado a partir do nome. E termina o exercício fiscal com uma festa de arromba, que reduz qualquer fome a zero, com o reforço de 50 quilos de carne da região pantaneira e outros tantos quilos de peixe trazidos da Amazônia.
Qualquer espírito de porco desocupado faria a sugestão de distribuir tanta comida aos que realmente têm fome. Pessoalmente, considero-me um espírito de porco desativado, mas volta e meia cometo reincidências. Uma delas é continuar gostando de Lula e torcendo por ele. Jogo todas as minhas fichas nele, sobretudo após sua festejada ida à Líbia, onde certamente descolou grandes investimentos do ditador local que ajudarão nossa combalida e democrática economia.
Não foram divulgados os litros de chope e caipirinhas. Na Idade Média, nas grandes festas do poder, eram servidos javalis colossais, porcos-espinhos cuja carne tinha a fama de ser saborosa e de levantar defuntos.
O governo não precisa de tão sofisticado cardápio. Fará apenas uma boquinha para tapear a fome que ainda não reduziu a zero.



Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Deixa disso
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: A China e os seus limites
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.