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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A China e os seus limites

No artigo de domingo passado, ressaltei a gravidade da crise energética que atinge a China nos dias de hoje e que pode comprometer o crescimento das próximas décadas.
Lendo um ensaio sobre outras limitações do gigante asiático, achei oportuno comentá-las (Megan Ryan e Christopher Flavin, "Facing China's Limits", in "The State of the World", New York, 1995).
A China possui 22% da população mundial, mas tem apenas 19% de terras cultiváveis, 7% de água e 2% de petróleo. São restrições que não podem ser desprezadas pelos que se dispõem a querer enxergar o futuro da China.
Muitos argumentarão que o Japão e Israel também são pobres em recursos naturais e se desenvolveram. Mas nenhum deles tem uma população de 1,3 bilhão de habitantes. Outros dirão que a pobreza da China poderá ser mantida sob controle pela força do regime comunista. Mas não podemos esquecer que as comunicações modernas criam novas aspirações e que a China entrou na OMC, passando a fazer parte do clube dos grandes exportadores e importadores.
A questão alimentar é crítica. E a necessidade de alimentos importados está batendo à porta da China. O consumo per capita subiu de 2.000 calorias/dia em 1965 para 2.640 calorias/ dia em 1990. Daí para a frente, o problema da fome foi confinado a pequenas áreas da zona rural. O aumento calórico baseou-se na maior participação de grãos na forma de carne, ovos e laticínios.
Do lado da produção, a agricultura chinesa passou por uma revolução graças à adoção de variedades melhoradas, ao uso intenso de fertilizantes e à irrigação. Na última década, entretanto, a produtividade estancou devido à erosão e ao constrangimento dos recursos naturais -falta de água, limitação de terras cultiváveis e uso excessivo de fertilizantes.
A intensa pressão exercida sobre as terras levou a China aos seus limites. A cada ano, centenas de milhares de hectares são retirados das zonas agrícolas por puro esgotamento. No referido ensaio, os autores estimam que um terço das terras cultiváveis tenha sido perdida.
Ao mesmo tempo, a demanda por grãos explodiu e continuará aumentando. Segundo as mesmas estimativas, o consumo per capita de grãos até 2030 subirá de 300 quilos anuais para 400 quilos. Com isso, o déficit de alimentos da China subirá para 400 milhões de toneladas por ano.
Considerando que as exportações anuais de grãos estão em 200 milhões de toneladas, quem vai suprir essa necessidade? Não estará ai a grande janela de oportunidade para o Brasil? Penso que sim. É claro que ninguém pode suprir todas as necessidades da China, mas, se suprirmos um quarto da nova demanda, dobraremos a safra atual! Recursos naturais e competência não nos faltam. Precisamos apenas de boas políticas públicas para apoiar o setor.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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