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ELIANE CANTANHÊDE
Por que, para que, para quem?
BRASÍLIA - É emocionante ver
uma mãe chorando num programa
eleitoral porque o filho pobre chegou à universidade? Sem dúvida. É
ótimo que jovens com poucas chances de estudo tenham diploma universitário? Com certeza.
Mas a principal questão da educação não é essa, nem são de todo
graves os dados do MEC mostrando
que 12% dos jovens de 18 a 24 anos
estão matriculados no ensino superior, quando o Plano Nacional de
educação prevê 30% até 2011.
O grave começa no ensino fundamental. O Brasil foi competente no
rumo da universalização, mas não é
preciso fazer prova em cima de prova para mostrar que os alunos saem
das escolas sem aprender.
E o grave continua no ensino médio, até com a falta de escolas técnicas para os milhões de jovens que,
em vez de anos e anos numa universidade teórica, precisam e querem
empregos reais. O percentual de jovens no ensino técnico nos EUA é
de 60%; no Brasil, de 9%.
Quem não tem um parente, amigo, filho que fez universidade por
fazer e ocupa função técnica, com
salário de técnico e vai continuar
técnico? É legítima a vontade da
mãe e do estudante de ter um diploma superior na mão -ou melhor,
na parede. Mas quem de fato lucra
com isso são as universidades particulares, muitas com ensino sofrível
e preços escorchantes. O "doutor"
gasta o que tem e o que não tem por
um sonho fugaz -e inútil.
Falta estratégia de educação no
país, e não é de hoje. É preciso saber
para quem, por que e para que abrir
vagas no ensino superior, combinando o arbítrio pessoal e o interesse nacional. Ou seja: vagas com
mercado de trabalho.
É melhor investir num ensino
que dê oportunidades iguais para
todos e trate a universidade como o
que é: centro de excelência. Até lá,
levar a sério as escolas técnicas, para que o aluno tenha opções reais e
orgulho da sua profissão, em vez de
ter um diploma vazio e uma frustração travestida de orgulho.
elianec@uol.com.br
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