São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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PAINEL DO LEITOR @ - leitor@uol.com.br

Sem constrangimento
"Ao contrário do que foi publicado no texto "Aparelho de pressão falha três vezes com Serra" (Cotidiano, 20/1), o prefeito de São Paulo não "passou por momentos de constrangimento" ao medir a pressão arterial durante a inauguração de mais uma unidade médica (AMA) na Zona Leste. E isso simplesmente porque não havia nenhuma razão para constrangimento. Atendendo a pedidos, Serra estava em um dos consultórios posando para fotógrafos e cinegrafistas. Quando percebeu que os novos medidores de pressão não funcionavam (ainda estavam lacrados), o prefeito pediu, sim, à secretária da Saúde que agisse como se o aparelho estivesse operando e que tirasse a sua pressão. Afinal, não era um teste de equipamentos, e sim uma cena para fotos -como tantas outras que o prefeito Serra já fez, inclusive a pedido dos próprios jornalistas em inaugurações, visitas ou mutirões de consultas médicas."
Sérgio Rondino, assessor de imprensa do prefeito José Serra (São Paulo, SP)

Saúde no Brasil
"O bispo de Berkeley considerava que o mundo era apenas uma ilusão. Em se tratando de saúde pública no Brasil, as cenas protagonizadas por políticos -não importa se do governo ou da oposição- tentam provar essa teoria. Numa mesma edição da Folha (20/1), vemos o prefeito José Serra, em plena campanha, ter sua pressão não-medida e, no mesmo evento, a secretária municipal de Saúde inventar uma nova forma, digna de um Nobel, de medir a pressão: só com o estetoscópio. Se isso fosse possível, poderíamos jogar fora nossos caros aparelhos de pressão. Devemos lembrar à secretária o que se aprende na faculdade de medicina: é possível medir a pressão só com o aparelho, prescindindo do estetoscópio, e não o contrário! Do outro lado da ponte aérea, o ministro da Saúde, em plena campanha, anuncia liberação de verbas para o município do Rio de Janeiro no anfiteatro da maior emergência da cidade, num ambiente de frescos 22C montado às pressas para a sua visita e desmontado logo em seguida, enquanto que, do lado de fora, a "escumalha", composta de pacientes e profissionais de saúde, cozinha nas salas de espera, consultórios e no centro cirúrgico, aguardando a instalação do ar condicionado. Tais encenações são sintomáticas da forma como é encarada, pelas estruturas políticas de poder, a imensa responsabilidade social de condução do Sistema Único de Saúde (subsetor público) no Brasil."
Luciana Tricai Cavalini, doutora em saúde coletiva, professora do Instituto de Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense e consultora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -Ipea (Rio de Janeiro, RJ)

Duda Mendonça
"A reportagem "Duda transfere R$ 4 mi de sua conta antes de ir à CPI" (Brasil, 20/1) informa que Duda Mendonça transferiu R$ 4 milhões de sua conta bancária pessoal antes de prestar depoimento na CPMI dos Correios, em agosto de 2005. Os valores, conforme informações em poder da CPMI, foram repassados para seu genro (R$ 500 mil), para a empresa de cinco de seus filhos (R$ 2,5 mi) e para sua agência de publicidade Duda Propaganda (R$ 1 mi). Os dados são verdadeiros e estão registrados em movimentação bancária e devidamente contabilizados pelas partes envolvidas. O que causa enorme indignação é a inferência de que tais operações teriam ocorrido para evitar que os valores fossem bloqueados judicialmente após o depoimento de Duda à CPMI. Que parlamentares façam essas ilações é compreensível. Faz parte do jogo político. Porém é inaceitável que a Folha abone, sem qualquer reflexão, essas suposições. Fui procurado pelos autores da reportagem e expliquei, minudentemente, cada uma das transferências. Foi reproduzido o "outro lado", como mandam as regras do bom jornalismo. Porém esse contraditório não pode ser apenas formal, só para "cumprir tabela". Era imprescindível que, prestados os esclarecimentos, eles fossem analisados de forma crítica para verificar se a reportagem deveria ou não ser publicada. A resposta à fantasiosa conjectura dos senhores parlamentares é muito simples: quem, buscando esconder seu dinheiro, faria transferências à sua própria empresa, ao seu genro e à empresa de seus filhos? Não é óbvio que esses valores permaneceriam, da mesma forma, sujeitos a bloqueio judicial? Se a intenção fosse realmente ocultar o dinheiro, bastaria sacá-lo em espécie e escondê-lo ou transferi-lo a "laranjas'! O jornalista não pode, jamais, esquecer a lição do professor Carlos Alberto Di Franco, titular de ética informativa na Faculdade Cásper Líbero: "A imprensa não pode ser transformada numa rampa de lançamento de mísseis políticos". "A mídia", lembra Paul Johnson, "é uma arma carregada quando dirigida com intenção hostil contra um indivíduo" ("O Estado de S.Paulo", 7/8/93, pág. A2). É com pesar que encaminho essa carta: senti-me envergonhado pela Folha."
Tales Castelo Branco (São Paulo, SP)

Resposta dos jornalistas Leonardo Souza e Rubens Valente - Ao contrário do que diz o missivista, "não é óbvio que esses valores permaneceriam, da mesma forma, sujeitos a bloqueio judicial", pois o genro e os filhos de Duda Mendonça não estão sob investigação e, portanto, não estão ao alcance de medida judicial desse tipo. Também não "bastaria sacar" o dinheiro em espécie, pois o Coaf, unidade de inteligência financeira do governo, imediatamente seria comunicado pelo banco.

STF e TSE
"O artigo de 19/1 do ministro Carlos Velloso ("Adeus, jamais!", Opinião, pág. A2) deveria ser distribuído a todos os estudantes de direito deste país. Na hora em que se despede do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele nos tranqüiliza ao afirmar que, como profissional, se guiará pelo Estatuto dos Advogados, que enaltece quando, na atividade privada, "o advogado presta serviço público e exerce função social". Grande lição! O artigo também recorda, com toda oportunidade, os avanços do processo eleitoral que ocorreram durante os períodos em que ele presidiu o TSE. Os partidos, os candidatos e mais de 100 milhões de eleitores têm uma dívida de gratidão para com o cidadão Carlos Velloso. A melhor maneira de pagá-la é prosseguir nos avanços moralizadores que a Justiça Eleitoral está propondo e já devem valer para as eleições de outubro."
Mauro Salles, advogado, jornalista e consultor de empresas (São Paulo, SP)

Recesso parlamentar
"O uso da justificativa do respeito à lei como forma de perpetuar os chamados direitos adquiridos é uma das grandes deformações da nossa história como nação. O recesso de 90 dias dos congressistas brasileiros era lei até ontem. Mas será que essa regalia atendia ao cada vez mais esquecido "interesse público'? A redução para 55 dias (ainda 83% maior que as férias de 30 dias concedidas ao resto da população) é, finalmente, um alvissareiro exemplo de como a vergonha pode ser regeneradora. Tudo indica que, se queremos mesmo construir uma verdadeira República, todos precisamos de maciças doses da boa e velha "vergonha na cara"."
Claudio Janowitzer (Rio de Janeiro, RJ)

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