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CLÓVIS ROSSI
Basta a Sasha
PARIS - Por uma questão de transparência, tenho que confessar que o
texto ontem publicado foi produto
de um esforço sobre-humano para
ser suave em relação ao discurso de
Barack Hussein Obama (por que
diabos o locutor oficial da cerimônia abreviou o "Hussein" para agá
apenas?).
Explico: jornalistas acabam endurecendo o coração, especialmente se estão há muito tempo na linha
de frente e mais ainda se o fazem
em uma região como a América Latina, em que há mais dores a contar
do que glórias a cantar.
Como se fosse pouco, passou de
todos os limites a sugestão explícita
ou implícita de quase toda a mídia
planetária no sentido de que foi o
governo Bush quem eliminou todos
os méritos dos Estados Unidos e
criou todos os seus pecados. Logo,
sem Bush, acabam também todos
os defeitos e ressurgem todas as
qualidades.
Tolice. Os Estados Unidos são um
império que ganhou todas as guerras de que participou, menos uma
(Vietnã), e age como tal, para o bem
ou para o mal, antes como depois de
George Walker Bush cometer todos
os erros que de fato realçaram o mal
e esconderam o bem.
Obama, portanto, não vai refundar os Estados Unidos, ao contrário
do que prometeu. Na melhor das hipóteses vai limpar a sujeira. Ponto.
Mas o que definitivamente contou para o texto foram aquelas duas
meninas negras, filhas do casal
Obama, e seu jeito na cerimônia,
comportadas sem serem reprimidas por um Barack mais pai que
presidente, por uma Michelle mais
mãe que primeira-dama -todos,
enfim, sem qualquer sinal exterior
de empáfia de primeira-família.
Ah, o polegar para cima da mais
novinha, Sasha, para o pai, após o
discurso, dispensa qualquer editorial contrário (ou até favorável) de
qualquer jornal. É tudo que qualquer pai, mesmo pai-presidente,
pode querer.
crossi@uol.com.br
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