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PLÍNIO FRAGA
O que a Beija-Flor ensina a Lula
RIO DE JANEIRO - A vitória da
Beija-Flor no Carnaval do Rio de
Janeiro pode trazer alguns ensinamentos até ao governo Lula.
Sediada em uma cidade de alto
índice de violência e de desemprego, a escola é responsável por dar
identidade a grande parte dos moradores de Nilópolis, na Baixada
Fluminense.
Quem vai a um ensaio da Mangueira, por exemplo, diverte-se como se tivesse em um baile de Carnaval, rodeado por turistas, descontraidamente cantando sambas antigos e tomando cerveja.
Na Beija-Flor não é assim. Primeiro, quem ensaia na escola são os
4.500 integrantes que vão desfilar.
Os freqüentadores dos ensaios são
espremidos nos cantos das quadras,
atrás das cordas, ou se limitam ao
camarote de convidados. As alas são
alinhadas na quadra como no dia do
desfile no sambódromo, e as coreografias são ensaiadas até a exaustão.
Como quem toma a lição, o coordenador de Carnaval passa o samba
com a bateria em tom baixo, obrigando que todos não só saibam o
samba como o cantem.
E são sambas difíceis de cantar (e
entender): "A fé nagô-yorubá/ Um
canto pro meu orixá tem magia/
Machado de Xangô, cajado de Oxalá/ Ogum yê, o onirê, ele é Odara",
diz a letra do samba com o qual a escola foi campeã neste ano.
A família Abraão David exerce o
papel de senhoria feudalista da escola. Elegeu até o prefeito da cidade. Nos ensaios, a PM assegura a
tranqüilidade dos componentes e
dos chefões. O poder público mais
do que aceita a força feudal: a serve,
respeita e obedece.
Esse poder político antidemocrático não impede que o samba expresse suas raízes: sambistas, passistas, artesãos e costureiras colocam a escola na rua -com dinheiro
negociado ou originado na família
David-, mas com integridade artística indubitável.
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