São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PLÍNIO FRAGA

O que a Beija-Flor ensina a Lula

RIO DE JANEIRO - A vitória da Beija-Flor no Carnaval do Rio de Janeiro pode trazer alguns ensinamentos até ao governo Lula.
Sediada em uma cidade de alto índice de violência e de desemprego, a escola é responsável por dar identidade a grande parte dos moradores de Nilópolis, na Baixada Fluminense.
Quem vai a um ensaio da Mangueira, por exemplo, diverte-se como se tivesse em um baile de Carnaval, rodeado por turistas, descontraidamente cantando sambas antigos e tomando cerveja.
Na Beija-Flor não é assim. Primeiro, quem ensaia na escola são os 4.500 integrantes que vão desfilar. Os freqüentadores dos ensaios são espremidos nos cantos das quadras, atrás das cordas, ou se limitam ao camarote de convidados. As alas são alinhadas na quadra como no dia do desfile no sambódromo, e as coreografias são ensaiadas até a exaustão.
Como quem toma a lição, o coordenador de Carnaval passa o samba com a bateria em tom baixo, obrigando que todos não só saibam o samba como o cantem.
E são sambas difíceis de cantar (e entender): "A fé nagô-yorubá/ Um canto pro meu orixá tem magia/ Machado de Xangô, cajado de Oxalá/ Ogum yê, o onirê, ele é Odara", diz a letra do samba com o qual a escola foi campeã neste ano.
A família Abraão David exerce o papel de senhoria feudalista da escola. Elegeu até o prefeito da cidade. Nos ensaios, a PM assegura a tranqüilidade dos componentes e dos chefões. O poder público mais do que aceita a força feudal: a serve, respeita e obedece.
Esse poder político antidemocrático não impede que o samba expresse suas raízes: sambistas, passistas, artesãos e costureiras colocam a escola na rua -com dinheiro negociado ou originado na família David-, mas com integridade artística indubitável.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Para que saber? Saber por quê?
Próximo Texto: Maria Sylvia Carvalho Franco: Remédios e venenos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.