São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Um gás tóxico

BUENOS AIRES - É uma pena que o que talvez seja o melhor momento das relações Brasil/Argentina fique algo turvado pelo problema do fornecimento de gás boliviano para ambos os países.
Os contratos que a Bolívia firmou com o Brasil e a Argentina não podem ser integralmente cumpridos, pelo menos não no inverno, quando a demanda argentina aumenta porque o frio é mais forte e é preciso aquecer esta linda Buenos Aires e as áreas mais ao sul, mais geladas.
Quando Lula e Evo Morales se encontraram em Viena, em maio de 2006, o presidente brasileiro reclamou do colega por ter colocado "uma espada sobre a sua cabeça", em alusão ao "alto custo político interno" sofrido por conta da nacionalização do gás boliviano, com ocupação militar de uma refinaria, e às críticas que Morales fizera na véspera à Petrobras.
Agora dá-se quase o inverso: se Lula e Cristina Kirchner forem duros demais com Morales na questão do cumprimento de contratos, colocam a espada na cabeça dele, no momento em que enfrenta problemas internos complicados, com a rebelião de alguns governadores e o impasse na Constituinte.
Por isso, há todo um esforço do lado brasileiro para não mostrar intransigência. "Faremos tudo o que pudermos, desde que não crie um problema para o Brasil", diz o ministro Celso Amorim. Parece justo. Pelo menos enquanto não houver uma conta clara a respeito da falta que fará o gás boliviano. Hoje, a Bolívia exporta entre 27 milhões e 29 milhões de m3. Teria que exportar 30 milhões.
Amorim, por não ser técnico, não consegue responder que diferença faz esse adicional em termos concretos. Enquanto isso, Brasil e Argentina perdem uma oportunidade de ouro para, a partir de sua própria sintonia, recosturar a integração sul-americana abalada por crises entre os outros parceiros. Pena.


crossi@uol.com.br

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