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CLÓVIS ROSSI
Um gás tóxico
BUENOS AIRES - É uma pena que
o que talvez seja o melhor momento das relações Brasil/Argentina fique algo turvado pelo problema do
fornecimento de gás boliviano para
ambos os países.
Os contratos que a Bolívia firmou
com o Brasil e a Argentina não podem ser integralmente cumpridos,
pelo menos não no inverno, quando
a demanda argentina aumenta porque o frio é mais forte e é preciso
aquecer esta linda Buenos Aires e as
áreas mais ao sul, mais geladas.
Quando Lula e Evo Morales se
encontraram em Viena, em maio de
2006, o presidente brasileiro reclamou do colega por ter colocado
"uma espada sobre a sua cabeça",
em alusão ao "alto custo político interno" sofrido por conta da nacionalização do gás boliviano, com
ocupação militar de uma refinaria,
e às críticas que Morales fizera na
véspera à Petrobras.
Agora dá-se quase o inverso: se
Lula e Cristina Kirchner forem duros demais com Morales na questão
do cumprimento de contratos, colocam a espada na cabeça dele, no
momento em que enfrenta problemas internos complicados, com a
rebelião de alguns governadores e o
impasse na Constituinte.
Por isso, há todo um esforço do
lado brasileiro para não mostrar intransigência. "Faremos tudo o que
pudermos, desde que não crie um
problema para o Brasil", diz o ministro Celso Amorim.
Parece justo. Pelo menos enquanto não houver uma conta clara
a respeito da falta que fará o gás boliviano. Hoje, a Bolívia exporta entre 27 milhões e 29 milhões de m3.
Teria que exportar 30 milhões.
Amorim, por não ser técnico, não
consegue responder que diferença
faz esse adicional em termos concretos.
Enquanto isso, Brasil e Argentina
perdem uma oportunidade de ouro
para, a partir de sua própria sintonia, recosturar a integração sul-americana abalada por crises entre
os outros parceiros. Pena.
crossi@uol.com.br
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