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MARINA SILVA
Renúncia e alerta
COM A renúncia do holandês
Yvo de Boer do cargo de secretário-executivo da Convenção sobre Mudança Climática
da ONU, o horizonte para a COP-16, em novembro, no México, fica
ainda mais incerto. Não bastasse o
desafio de se chegar a um acordo
legal pós-Copenhague, haverá uma
acirrada disputa política e diplomática para a escolha do(a) sucessor(a) de De Boer, que se comprometeu a ficar no cargo até 1º de julho. Quem estará à altura da tarefa?
Apesar de todos os impasses em
sua gestão, De Boer teve papel fundamental nesses quatros anos à
frente da secretaria. Em Copenhague, conseguiu a façanha de reunir
mais de cem chefes de Estado e colocar na mesma mesa de discussões todos os 194 países membros
do IPCC.
Seu estilo discreto não o impediu
de ultrapassar, em certas momentos, os limites da diplomacia, constrangendo diretamente líderes
contrários ao avanço das negociações. Perceptivelmente, entregou-se de corpo e alma à defesa de um
novo tratado internacional para reduzir as emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa, capaz de ajudar os países mais pobres
a se adaptarem ao impacto do
aquecimento global.
Recordo-me de seu gesto desesperado para salvar de um fracasso
total a reunião de Bali, na Indonésia, em 2007. De Boer chegou às lágrimas em seu apelo, e de forma inquestionável, comoveu a todos,
dando uma lição de humanidade. A
reunião acabou com um acordo.
Durante a era De Boer na secretaria, houve aumento extraordinário no envolvimento da sociedade
com o tema e, consequentemente,
mais pressão sobre os governos, levando muitos deles a mudanças
históricas, como foi o caso do Brasil. Felizmente essa força moral e
política já não pode mais ser contida, até porque as evidências do
aquecimento do clima e seus efeitos se multiplicam a cada dia.
Caberá ao secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, fazer a escolha do sucessor, de forma que as
negociações não percam fôlego,
mas ganhem nova dinâmica até a
reunião no México.
Os governantes dos países comprometidos com a luta contra o
aquecimento global precisam dar
sustentação política ao processo
para impedir que os lobbies empresariais e políticos -que militam
contra um acordo vinculante de redução das emissões e manipulam
divergências científicas para dar
fôlego aos seus interesses- consigam continuar impondo mais obstáculos e atrasos.
A sociedade civil precisa redobrar o trabalho de mobilização e
convencimento, sabendo que a troca de comando na secretaria da
convenção é um importante fator
para o sucesso ou o fracasso da
COP-16.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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