São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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O ATAQUE E AS PROVAS

O discurso proferido da tribuna do Senado por José Sarney (PMDB-AP) não surpreendeu. A peça retórica se manteve coerente com a linha de defesa escolhida pelo grupo da governadora do Maranhão desde o momento em que a Polícia Federal executou mandado de busca e apreensão na empresa Lunus. A estratégia consiste em tentar convencer o público de que os acusados foram, na verdade, vítimas de conspiração. A tática é perfeitamente válida. Mas, para que cumpra o seu objetivo, precisa satisfazer alguns requisitos.
O primeiro, em ordem de importância, é oferecer uma versão não comprometedora sobre o fato que gerou a suspeição. O que sustentou a expedição do mandado de busca apreensão foram suspeitas de envolvimento da empresa de Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad, em fraudes na Sudam. Mas o assunto não é o que mais desperta interesse neste momento. Fica em segundo plano diante da necessidade de explicar as 26.800 notas de R$ 50 com que a PF deparou na Lunus.
O pronunciamento do senador Sarney acolhe a explicação dada por Murad. O marido de Roseana assumiu a responsabilidade pelo R$ 1,34 milhão alegando que o montante resultaria de recolhimento antecipado de fundos de campanha. Trata-se da confissão de um delito eleitoral e do reconhecimento de que as versões anteriores não eram para valer.
Sem desvencilhar-se da nódoa de ilegalidade acerca do dinheiro que estava na Lunus, a estratégia política dos Sarney fica bastante comprometida. Podem, no máximo, tentar "empatar o jogo". Para tanto, precisam convencer o público de que, se o que foi encontrado na empresa não é abonador, há vícios graves nas circunstâncias que envolveram a operação policial. Esse foi o mote do discurso do ex-presidente Sarney.
Foram graves os ataques contra FHC, o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e o pré-candidato José Serra. Mas Sarney não logrou sustentar suas acusações com provas ou com indícios cuja contundência se assemelhasse à imagem das notas de dinheiro sobre a mesa. Para surtir algum resultado político, a estratégia de defesa dos Sarney depende, portanto, de que surja um fato novo.



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