São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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GRADUALISMO MANTIDO

O Banco Central frustrou o mercado ao promover redução dos juros abaixo da expectativa. A taxa básica foi cortada de 18,75% para 18,50% ao ano. Esperava-se corte de meio ponto percentual. O desapontamento com o conservadorismo do BC é compreensível.
O Brasil continua com um dos juros mais altos do mundo, atrás da Polônia e da Argentina, país que enfrenta profunda recessão e agitação política. Além disso, o sacrifício que a política monetária impõe à sociedade é imenso. Para ter uma idéia, mesmo essa tímida diminuição da taxa representará economia de mais de R$ 800 milhões no pagamento dos juros da dívida pública.
A explosão da dívida tem sido o preço da estabilidade. Para manter a inflação sob controle, o governo segura o crescimento com os juros. Os juros realimentam a dívida interna, que em termos nominais passou de menos de R$ 60 bilhões a mais de R$ 600 bilhões nos oito anos de Real.
A lógica perversa dessa política é que a defesa do real no curto prazo implica o comprometimento do ajuste fiscal no futuro. Isso significa que a estabilidade da moeda continuaria dependendo dos juros elevados. A decisão de anteontem não interrompe esse círculo vicioso.
A frustração do mercado também tem origem na análise de que a melhora das perspectivas da economia americana poderia ter permitido atitude menos cautelosa do BC.
A influência do cenário externo é reconhecida pela autoridade monetária. Afinal, a maior entrada de dólar resultante de eventual aumento das exportações contribuiria para reduzir a pressão inflacionária, na medida em que evitaria a desvalorização da moeda e a consequente alta dos preços dos insumos importados.
Embora um corte mais expressivo dos juros fosse desejável, não deixa de ser positivo o fato de que o gradualismo na redução das taxas, inaugurado em fevereiro, tenha sido preservado. O importante, agora, é manter a tendência.


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