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VINICIUS TORRES FREIRE
A novidade social do PT
SÃO PAULO - Não faz muito tempo, começavam-se análises sobre o PT,
fossem hostis ou amigas, com um
cumprimento: "o PT é o que há de
mais novo na política nacional".
O contraponto óbvio, fundamento
da tal novidade, era o dos partidos de
caciques ou líderes de origem social
média ou superior versus o partido de
sindicalistas e líderes de movimentos
sociais, mãos e pés ainda frescos de
graxa e barro.
É um clichê da política dizer que a
luta pragmática pelo poder e o poder
envelheceram o PT, embora resida aí
um grão de verdade. Os líderes sociais tornam-se quadros de máquina
burocrática orientada para a sua autopreservação (a vitória eleitoral), e
não mais para o sucesso do movimento social de origem.
Mas o PT ficou velho? Ou ficou decrépita e foi desenganada a esperança esquerdista tradicional de assistir
ao desabrochar da consciência e da
razão da história, o movimento redentor dos trabalhadores?
A singularidade do PT é outra. Camadas médias, média-baixas, do
país, criadas no ciclo desenvolvimentista, articuladas socialmente mas
não politicamente, assumiram seu
lugar na luta partidária. Não se tratava de povo miúdo, de excluídos,
mas da "elite operária", os menores e
os novatos do clube da elite real.
Com a profissionalização autoconsciente após a derrota de Lula para o Real, em especial com as vitórias
municipais de 1996 e 2000, o PT passou também a desenvolver quadros
de burocratas públicos profissionais,
intercambiados pelas várias administrações petistas.
Alguns deles começaram a realizar,
a seu modo municipal, o vaivém tão
criticado entre coisa pública e negócio privado que fizeram também os
banqueiros tucanos e a fisiologia tradicional pefelê: de prefeituras para
consultorias, empresas de lixo, de
ônibus, daí para o poder federal.
Uma nova camada social, vitoriosa
politicamente, prendeu-se como craca no casco do Estado. O PT é novo,
sim: mimetizou uma velharia política nacional com novas figuras do
quadro social e político do país.
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