São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

A novidade social do PT

SÃO PAULO - Não faz muito tempo, começavam-se análises sobre o PT, fossem hostis ou amigas, com um cumprimento: "o PT é o que há de mais novo na política nacional".
O contraponto óbvio, fundamento da tal novidade, era o dos partidos de caciques ou líderes de origem social média ou superior versus o partido de sindicalistas e líderes de movimentos sociais, mãos e pés ainda frescos de graxa e barro.
É um clichê da política dizer que a luta pragmática pelo poder e o poder envelheceram o PT, embora resida aí um grão de verdade. Os líderes sociais tornam-se quadros de máquina burocrática orientada para a sua autopreservação (a vitória eleitoral), e não mais para o sucesso do movimento social de origem.
Mas o PT ficou velho? Ou ficou decrépita e foi desenganada a esperança esquerdista tradicional de assistir ao desabrochar da consciência e da razão da história, o movimento redentor dos trabalhadores?
A singularidade do PT é outra. Camadas médias, média-baixas, do país, criadas no ciclo desenvolvimentista, articuladas socialmente mas não politicamente, assumiram seu lugar na luta partidária. Não se tratava de povo miúdo, de excluídos, mas da "elite operária", os menores e os novatos do clube da elite real.
Com a profissionalização autoconsciente após a derrota de Lula para o Real, em especial com as vitórias municipais de 1996 e 2000, o PT passou também a desenvolver quadros de burocratas públicos profissionais, intercambiados pelas várias administrações petistas.
Alguns deles começaram a realizar, a seu modo municipal, o vaivém tão criticado entre coisa pública e negócio privado que fizeram também os banqueiros tucanos e a fisiologia tradicional pefelê: de prefeituras para consultorias, empresas de lixo, de ônibus, daí para o poder federal.
Uma nova camada social, vitoriosa politicamente, prendeu-se como craca no casco do Estado. O PT é novo, sim: mimetizou uma velharia política nacional com novas figuras do quadro social e político do país.


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