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CARLOS HEITOR CONY
Imagem pública
RIO DE JANEIRO - Carta de leitor na edição da última quarta-feira, comentando a morte de Clodovil
Hernandez, lamenta que somente
agora, com os obituários publicados, ficou sabendo que ele apresentara um projeto reduzindo o número de deputados -acho que pela
metade.
Eu também ignorava este projeto
do polêmico parlamentar e acredito
que muita gente também não sabia
que, além de criar alguns casos próprios de seu temperamento, ele tivera uma belíssima ideia, que um
dia, acredito, será retomada.
Será uma batalha difícil. O número de deputados é regulado por lei
maior e proporcional ao colégio
eleitoral de cada Estado. É evidente
que Clodovil, sozinho, não teria
condições de modificar a situação.
Mas a ideia é boa e muita gente pensa como ele, inclusive o autor destas
mal traçadas -e bota mal traçadas
nisso.
O motivo da desinformação é
simples. A mídia habituou-se a discriminar o universo -seja ele o universo político, econômico, ideológico, social ou artístico- em duas categorias distintas e imutáveis: a dos
eleitos e a dos réprobos, a dos bons
e a dos maus, caretas e bacanas, vestais e pecadores.
Por diversos motivos, Clodovil
pertencia à banda demonizada pelas cultas gentes. Se descobrisse a
cura do câncer, o elixir da juventude, o Santo Graal, a quadratura do
círculo, os ossos de Dana de Teffé,
ninguém saberia.
Em compensação, todos saberíamos que ele usava pijamas de seda
com dragões pintados nas costas e
que suas cuecas tinham gravado o
nome dele encimado por uma coroa
de duque.
Na pauta das edições, em jornais,
revistas, rádios ou TVs, qualquer
notícia relativa a essa sub-humanidade só merece destaque quando
acentua e amplia a enormidade da
breguice que lhe é atribuída. Chamam a isso de "imagem pública".
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