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Contas erradas
Embora correto, bloqueio de gastos do Orçamento evidencia práticas pouco recomendáveis na gestão de recursos públicos
A ATITUDE cautelosa por
parte de quem comanda o uso do dinheiro
público merece elogios, ainda mais em se tratando
de ano eleitoral. E é de fato acertado o congelamento de R$ 21,8
bilhões de despesas do Orçamento da União para este ano,
anunciado pelo governo federal
na semana passada, dado que se
estima agora uma receita inferior à previsão inicial -e uma
despesa superior.
O problema é que o corte
anunciado indica que a proposta
orçamentária enviada ao Congresso no ano passado estava baseada em premissas irreais.
Em relação ao total do Orçamento da União, que, para 2010,
supera R$ 1,7 trilhão, o montante
contingenciado não é expressivo. Mas como na prática o volume de recursos efetivamente gerenciáveis é pequeno, em função
de uma série de restrições legais
e gastos inelásticos -como grande parte da despesa de pessoal-,
o corte torna-se significativo.
Do lado da arrecadação, estima-se que R$ 28 bilhões em recursos administrados pela Receita deixarão de entrar no caixa
do Tesouro. Os principais itens
cuja arrecadação deverá ser frustrada em relação às previsões
iniciais são o Imposto de Renda,
a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (Cofins).
É paradoxal, já que são valores
influenciados pelo ritmo de expansão da economia. O próprio
governo, na reavaliação das receitas, estima um crescimento
do PIB em 2010 mais elevado
-5,2%, contra 5% previstos na
Lei Orçamentária aprovada.
Também a inflação esperada para o ano foi revista, passando de
4,5% para 5%, o que em tese deveria contribuir para elevar a receita em termos nominais.
O nó da questão parece estar
no otimismo injustificado do governo quando enviou a proposta
orçamentária ao Congresso, ao
final de agosto do ano passado.
Naquele momento, apesar de estar claro para a maior parte dos
analistas que seria muito difícil a
economia brasileira registrar desempenho positivo em 2009, por
conta da crise econômica, o governo insistiu numa previsão de
crescimento de 1%.
Com isso, superestimou-se a
base sobre a qual foram projetados os números relativos a 2010.
O ajuste agora se faz inevitável, já
que o PIB de 2009 caiu 0,2% em
relação ao ano anterior.
Do lado das despesas, outra
surpresa. O deficit previdenciário estimado saltou de R$ 43 bilhões para R$ 47 bilhões. O buraco de R$ 4 bilhões deve-se a reajustes de aposentadorias e concessão de benefícios em patamar
acima dos cálculos iniciais.
Além das manobras nas estimativas de arrecadação e gasto, a
condução do Orçamento padece
de inaceitável falta de transparência, já que parte considerável
da receita é destinada ao pagamento de despesas contraídas no
ano anterior -os restos a pagar.
Como esse volume tem sido
muito expressivo, aquilo que é
executado no ano acaba se tornando muito diferente do que foi
aprovado pela lei.
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