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RUY CASTRO
Vocação e talento
RIO DE JANEIRO - Inspirados
pelos exemplos que vêm de cima,
nossos gatunos estão elevando o nível da rapinagem. Ninguém mais se
passa por roubar galinhas, bater
carteiras ou arrombar fusquinhas.
Os alvos da cobiça sofisticam-se.
No começo da semana, por exemplo, um homem adentrou uma loja
de produtos eróticos em São José
dos Campos (SP), rendeu as funcionárias com uma pistola de brinquedo e levou o dinheiro do caixa, além
de um estoque de consolos, óleos de
vários teores e sabores e anéis de
borracha equipados com bilu-bilu.
O futuro lhe prometia longas noites
de loucuras. Mas não houve tempo
-soou um alarme e ele foi preso ao
deixar a loja.
No mesmo dia, em Três Corações
(MG), um homem entrou pela janela da casa do pai de Milton Nascimento e roubou um disco de ouro
do cantor que, da rua, ele vira pendurado numa parede (o disco, não o
cantor). Mas, também nesse caso, o
crime não compensou. Um vizinho
percebeu o movimento, chamou a
polícia e esta abotoou o elemento
quando ele saiu.
Poucos dias antes, perto da meia-noite, um homem parou com seu
carro num sinal na avenida Indianópolis, zona sul de São Paulo, e foi
abordado por dois travestis armados de canivete. Eles lhe tomaram o
dinheiro e perguntaram o que continha o belo estojo no banco ao seu
lado. Ao serem informados de que
era um violino, não hesitaram: exigiram também o instrumento. O
homem ofereceu-lhes o carro
-muito mais valioso- em troca do
violino, mas os travestis não aceitaram. Deve ter falado mais alto a inclinação musical de um deles.
Bem, este foi um assalto bem sucedido. Os outros dois se frustraram, por incompetência dos ladrões. O que prova que, como em
tudo no meio artístico, intelectual
ou político, não basta ter a vocação
para ser um escroque. É preciso talento também.
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