São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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RUY CASTRO

Vocação e talento

RIO DE JANEIRO - Inspirados pelos exemplos que vêm de cima, nossos gatunos estão elevando o nível da rapinagem. Ninguém mais se passa por roubar galinhas, bater carteiras ou arrombar fusquinhas. Os alvos da cobiça sofisticam-se.
No começo da semana, por exemplo, um homem adentrou uma loja de produtos eróticos em São José dos Campos (SP), rendeu as funcionárias com uma pistola de brinquedo e levou o dinheiro do caixa, além de um estoque de consolos, óleos de vários teores e sabores e anéis de borracha equipados com bilu-bilu. O futuro lhe prometia longas noites de loucuras. Mas não houve tempo -soou um alarme e ele foi preso ao deixar a loja.
No mesmo dia, em Três Corações (MG), um homem entrou pela janela da casa do pai de Milton Nascimento e roubou um disco de ouro do cantor que, da rua, ele vira pendurado numa parede (o disco, não o cantor). Mas, também nesse caso, o crime não compensou. Um vizinho percebeu o movimento, chamou a polícia e esta abotoou o elemento quando ele saiu.
Poucos dias antes, perto da meia-noite, um homem parou com seu carro num sinal na avenida Indianópolis, zona sul de São Paulo, e foi abordado por dois travestis armados de canivete. Eles lhe tomaram o dinheiro e perguntaram o que continha o belo estojo no banco ao seu lado. Ao serem informados de que era um violino, não hesitaram: exigiram também o instrumento. O homem ofereceu-lhes o carro -muito mais valioso- em troca do violino, mas os travestis não aceitaram. Deve ter falado mais alto a inclinação musical de um deles.
Bem, este foi um assalto bem sucedido. Os outros dois se frustraram, por incompetência dos ladrões. O que prova que, como em tudo no meio artístico, intelectual ou político, não basta ter a vocação para ser um escroque. É preciso talento também.


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