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MARINA SILVA
Dia da vida
SEM ÁGUA não existe vida,
saúde ou desenvolvimento
sustentável. Se a água for mal
tratada e mal gerida, pode ser morte, doença e desigualdade social. E,
a cada ano que passa, torna-se
maior o complexo desafio para o
homem tratar da questão da água
em um cenário de industrialização,
de urbanização e de mudanças climáticas.
Todos os cenários vislumbrados
para o Brasil, no âmbito das mudanças climáticas, apontam para
alteração do padrão de chuvas no
ano. Avaliando-se o que já acontece
hoje em todas as regiões do país, é
de se esperar que aumentem os
efeitos desastrosos desses fenômenos naturais.
Historicamente, temos tratado a água como um recurso inesgotável.
Embora vivamos em um planeta
cuja superfície é ocupada por cerca
de dois terços de água, esquecemos
que apenas 0,09% dessa água pode
ser aproveitada para consumo do
homem. E há uma parte significativa que já foi poluída ou degradada
pela ação humana.
O Brasil é favorecido com o
maior volume de água doce do planeta. Entretanto, difundiu-se aqui,
desde Pero Vaz de Caminha, a falsa
ideia de abundância. É enganosa a
ideia, uma vez que a distribuição é
desigual e a maior parte da água está concentrada na bacia amazônica.
Como destino natural das águas
de chuvas em um território, os rios,
os lagos e os mares trazem em suas
entranhas as marcas e os reflexos
das atividades humanas. Os rios
traduzem, assim, as virtudes e as
mazelas de nossa relação com o
meio ambiente. Viram o melhor indicador do gerenciamento e da
consciência ambiental de uma sociedade. Sob essa perspectiva, há
pouco a festejar e muita preocupação com o Dia Mundial da Água, celebrado hoje. Para se ter uma ideia,
a maior parte do esgoto gerado nas
cidades é despejado sem tratamento nos cursos d'água.
Nas últimas décadas, o Brasil
avançou na criação de um aparato
legal e institucional que permite
gerenciar, de forma adequada, as
águas do país. É um sistema que
exige a participação cidadã e a consideração das diferentes situações
regionais.
Com esse sistema implantado,
certamente o Brasil estaria mais
bem preparado para enfrentar os
desafios que se avizinham. No entanto, o batalha é ainda imensa, já
que a questão da água ainda não
ocupa a prioridade que deveria ter
para os gestores públicos.
Fizemos o Plano Nacional de Recursos Hídricos com intensa participação da sociedade. Agora precisamos enfrentar o grande desafio
de implementá-lo. Saneamento
básico é a prioridade, investimento
obrigatório para quem deseja uma
sociedade que sabe cuidar das suas
águas em benefício de seus cidadãos.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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