São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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O básico em educação

Falência do ensino exige de governo e sociedade reação vigorosa, com adoção e perseguição de metas realizáveis

ESGOTOU-SE a fase de debates pernósticos sobre educação. O enfrentamento dos desafios da universalização e da avaliação do ensino na última década revelou o pântano do qual surge a chance de cumprir a promessa republicana: escola básica de qualidade para todos os brasileiros.
Não pode ser dado como viável nem digno um país em que a maioria das escolas das redes públicas caminha para a reprovação sob o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em preparação pelo Ministério da Educação (MEC). A nação ostenta, ainda, 18% de jovens de 15 a 17 anos fora da escola -quase 2 milhões de adolescentes semiletrados.
Começam a ser dados os primeiros passos para mudar esse quadro. O Fundeb, que financiará a educação básica pública, passou com relativa facilidade na Câmara. Teve boa acolhida o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) apresentado pelo MEC -apesar de não ter definido metas abrangentes.
Convergência similar pode ser observada também no meio social. Um sintoma disso está em iniciativas como o Compromisso Todos Pela Educação, organização criada em 2006 que reúne desde dirigentes de redes públicas de ensino e ONGs até empresas e fundações.
O movimento lançou cinco metas quantificadas e exeqüíveis para a educação, a serem cumpridas até o ano de 2022, quando o país comemorará 200 anos da Independência. É o básico (veja quadro).
As metas do compromisso merecem apoio. A discussão doravante deve ater-se aos meios para realizá-las. É preciso preservar a liberdade do educador de eleger ferramentas de ensino. Sua latitude, porém, não deve ir até o ponto de admitir que fracassem na tarefa de alfabetizar, por exemplo.
Nesse intuito, o jornal compilou cinco metas complementares, mais voltadas para a organização e o funcionamento da escola. Seguindo o espírito do compromisso, todas observam como prazo o ano de 2022.
O quinteto de objetivos adicionais abrange alvos com grande potencial para influenciar o resultado pedagógico. Não sendo as únicas metas imagináveis, são todas urgentes.
Tais objetivos devem ser complementados com outras medidas administrativas, como a revalorização da carreira de professor e a premiação por mérito. O PDE já prevê a criação de um piso salarial nacional na casa de R$ 850. É preciso ir além, para permitir que a profissão passe a competir pelos melhores quadros das universidades.
O educador, contudo, não é o único a ser comprometido com o sucesso do ensino. O papel da família e da comunidade revela-se crucial. Sua participação, na cobrança por qualidade, será facilitada com a divulgação transparente das avaliações por escola. Em localidades carentes, a educação em período integral pode ser um recurso imprescindível.
As universidades públicas devem concentrar-se em formar professores eficientes, dotados de recursos para ensinar o que as crianças e os jovens necessitam saber: redigir, ler e entender textos básicos; compreender e executar operações matemáticas fundamentais; observar, formular e testar hipóteses sobre a realidade; conhecer, criar e desfrutar bens culturais.
Trata-se de uma emergência. Quando futuros professores passam a ser recrutados em uma geração de incultos e despreparados, acabou-se o tempo para experimentalismo. Chegou o momento de transformar em realidade, descendo ao rés-do-chão da escola, os discursos grandiosos sobre cidadania.

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