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O básico em educação
Falência do ensino exige de governo e sociedade reação vigorosa, com
adoção e perseguição de metas realizáveis
ESGOTOU-SE a fase de debates pernósticos sobre
educação. O enfrentamento dos desafios da
universalização e da avaliação do
ensino na última década revelou
o pântano do qual surge a chance
de cumprir a promessa republicana: escola básica de qualidade
para todos os brasileiros.
Não pode ser dado como viável
nem digno um país em que a maioria das escolas das redes públicas caminha
para a reprovação sob o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em preparação pelo Ministério da Educação (MEC). A nação ostenta, ainda, 18% de jovens
de 15 a 17 anos fora da escola -quase 2 milhões de
adolescentes semiletrados.
Começam a ser dados os primeiros passos para mudar esse quadro. O Fundeb,
que financiará a educação básica pública, passou com relativa facilidade na Câmara.
Teve boa acolhida o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) apresentado pelo MEC -apesar de não
ter definido metas abrangentes.
Convergência similar pode ser
observada também no meio social. Um sintoma disso está em
iniciativas como o Compromisso
Todos Pela Educação, organização criada em
2006 que reúne desde dirigentes de redes públicas
de ensino e ONGs
até empresas e
fundações.
O movimento
lançou cinco metas quantificadas
e exeqüíveis para
a educação, a serem cumpridas
até o ano de 2022,
quando o país comemorará 200
anos da Independência. É o básico
(veja quadro).
As metas do
compromisso merecem apoio. A
discussão doravante deve ater-se
aos meios para
realizá-las. É preciso preservar a liberdade do educador de eleger ferramentas de
ensino. Sua latitude, porém, não
deve ir até o ponto de admitir
que fracassem na tarefa de alfabetizar, por exemplo.
Nesse intuito, o jornal compilou cinco metas complementares, mais voltadas para a organização e o funcionamento da escola. Seguindo o espírito do compromisso, todas observam como
prazo o ano de 2022.
O quinteto de objetivos adicionais abrange alvos com grande
potencial para influenciar o resultado pedagógico. Não sendo
as únicas metas imagináveis, são
todas urgentes.
Tais objetivos devem ser complementados com outras medidas administrativas, como a revalorização da carreira
de professor e a
premiação por
mérito. O PDE já
prevê a criação de
um piso salarial
nacional na casa
de R$ 850. É preciso ir além, para
permitir que a profissão passe a competir pelos melhores quadros das
universidades.
O educador, contudo, não é o único
a ser comprometido com o sucesso
do ensino. O papel
da família e da comunidade revela-se crucial. Sua participação, na cobrança por qualidade, será facilitada com a divulgação transparente
das avaliações por escola. Em localidades carentes, a educação
em período integral pode ser um
recurso imprescindível.
As universidades públicas devem concentrar-se em formar
professores eficientes, dotados
de recursos para ensinar o que as
crianças e os jovens necessitam
saber: redigir, ler e entender textos básicos; compreender e executar operações matemáticas fundamentais; observar,
formular e testar
hipóteses sobre a
realidade; conhecer, criar e desfrutar bens culturais.
Trata-se de uma
emergência.
Quando futuros
professores passam a ser recrutados em uma geração de incultos e
despreparados,
acabou-se o tempo
para experimentalismo. Chegou o
momento de
transformar em
realidade, descendo ao rés-do-chão
da escola, os discursos grandiosos
sobre cidadania.
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