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CLÓVIS ROSSI
Conservadores do quê?
PARIS - Minha geração foi colonizada culturalmente pela França, assim como as seguintes, em especial as mais recentes, o foram pelos Estados Unidos. Assim sendo, por
mais que cresça o ceticismo ao longo dos anos em uma profissão em
que ele é vital, no fundo do coraçãozinho sempre sobra uma réstia de
esperança de que os velhos colonizadores tenham idéias novas para
os países de "là-bas".
Não têm. Quer dizer, têm o velho
modelo de bem-estar social que
continua admirável, com todos os
seus problemas e apesar das críticas
que lhe fazem os profetas do pensamento único, que acham que o
mundo é um mercado e só.
Mas novidade mesmo, pouco. O
mundo político francês até ensaiou
um tremendismo durante a campanha para as eleições de hoje. Nicolas Sarkozy (direita, favorito até
agora) falou em "ruptura". Depois,
explicou que a ruptura seria "tranqüila". Ségolène Royal (socialista,
segunda nas pesquisas) seguiu um
pouco o mesmo caminho, ao definir-se como "ousada". Logo acrescentou que é, sim, ousada, "mas ousada com um seguro".
François Bayrou (centrista, terceiro lugar) andou falando em uma
"6ª República" (a França está na 5ª,
uma conta, aliás, que só eles entendem). Mas ao mesmo tempo se define como de "extremo centro", o que
não combina com ousadias como
trocar de República.
Até entendo esse, digamos, conservadorismo generalizado, que é
também do eleitor. Há por aqui um
bocado a conservar.
O que não consigo entender é o
conservadorismo generalizado no
Brasil, país que finge o tempo todo
mudar tudo para deixar tudo como
está, como diria Giuseppe di Lampedusa. É razoável conservar um
sistema que se vai mostrando podre
em todas as suas instâncias, do que
dá prova (apenas a mais recente) o
envolvimento de figuras do Judiciário e do mundo jurídico com o
crime organizado?
crossi@uol.com.br
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